quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Um texto mal feito pra comentar algo bem feito

Tendo-que fazer um ensaio sobre O Quinze de Rachel de Queiroz e no desespero de não saber o que fazer, comecei a ler mais sobre ela algumas crônicas, alguns textos, e cada vez mais me identifiquei com o jeito dela. Ela é, como dizem, modesta e acha que escreve mal pacas (e realmente também não acho grande coisa certas coisas...), assim como eu. Só a carinha de tartaruga dela (concordo numa das crônicas em que ela dizia que beleza era sim importante e fundamental, não só por atitude contra-intelectual típica de quem quer ser diferente até dos que concorda, mas porque devia ter auto-crítica suficiente pra não se perdoar a feiúra) já fazem você detestar ela. Agora, junte uma carinha de vovó-tartaruga com uma comunista que virou direitona... bom, eu não gosto dela ao mesmo passo que não detesto. Realmente não concordo com tudo mas me identifico mesmo assim. Aí não sei sobre o que falo no meu ensaio... ainda. Descobri nela uma temática que se repete bastante - e que seria um campo fácil pra eu abordar -: a da morte como libertação, coisa boa - creio que ela morreu aos 92 anos por tanto dizer que dá uma preguiiiiiiiiça viver! Por mais que ela diga que a vida não promete nada e tatatá, essa foi uma sacanagem da vida que dá até pra ouvir um risinho irônico no ar. Outra temática é dela como mulher falando de mulher e criando personagens mulheres. Alguns textos ela até dá raiva de tanto que chega a ser machista... e ao mesmo tempo ela era a maior feminista enrustida da paróquia. É foda escrever sobre alguém assim..... ambígüa, ambivalente... enfim, nada de diferente. E chata.
Só não devo entender direito ela, nem gostar, pela situação constrangedora e forçada em que nos conhecemos. Deve ser isso.

Férias. Eu não estou indo trabalhar essa semana, mas ainda assim, preciso de férias. Sempre fui uma fracote e trabalhar e estudar ao mesmo tempo não é pra mim... Não consigo mais ouvir nenhum professor sem revirar os olhos e soprar o ar. Estou cansada de toda aquela baboseira igual, igual que fica se repetindo e nem mais me faz qualquer sentido. Cansada da vaziozice das pessoas, cansada da mesma casa, dos mesmos professores, do mesmo trabalho. Quem diria que eu, euzinha, sou tão afeita a estar sempre mudando? Isso é bom, é bom. Mas é mal porque os dias, semanas, meses anos sempre se dividem igual, o horário das coisas é sempre o mesmo. Não dá pra pedir pra mudar só por umas semanas não. Quero viajar. Pra um lugar diferente dessa chulice de sempre. Sem nada igual, nada! Vontade explodindo de pegar a transiberiana. O Paulo Coelho é um bobo feio, mas eu queria ser ele só por um tempo, pra andar de trem e dar autógrafo para russos perdidos no meio da taiga que têm pôster meu em seus iglus.
O problema é o tenho-que. O tenho-que é à toda hora, mesmo parada sem fazer nada. Tenho-que tomar banho, tenho-que ir no banheiro, tenho-que comer, tenho-que trabalhar, tenho-que escrever um trabalho, tenho-que de todos os tipos. Aí é demais, demais mesmo, que até no momento em que só estou pensando e reclamando da minha sina me apareça um tenho-que dizendo que preciso mudar meu comportamento, meu modo de ver a vida. Ora! Pior ainda quando vem um tenho-que dizendo que tenho-que parar de me preocupar com isso. Aí estou escrevendo esse monte de asneira porque tenho-que atualizar meu blog. E se alguém me disser que eu tenho-que alguma coisa, nem que seja mudar meus textos, com toda a razão... eu explodo, explodo mesmo! Mas eu prefiro estar alerta que estar morrendo. É bem melhor que tempos passados em que eu só detestava minha vida, dentro de um tédio maciço. Era difícil, eu queria mudar, mas como conseguir impulso quando se está na inércia? Eu pedia, implorava pra minha mãe por um psicoalgumacoisa pra fazer isso parar e ela achava isso frescura. Meu irmão dizia pra eu ir numa ong ajudar crianças com câncer descobrir o que é verdadeiro sofrimento, meu padrasto dizia que era espírito ruim. Agora os dois - irmão, padrasto - largaram emprego e estão deitados em cama dias à fio e freqüentando psicosalgumacoisa. Sem mentira, parece até, mas é verdade. Tive vontade de dizer a eles que isso é falta de vergonha na cara ou algo igualmente idiota do tipo, como eles me diziam, mas deixa pra lá eles sofrendo já é suficiente pra a vingança que nem pedi. Preferia estar esbanjando felicidade do que sabendo que eles estão mal. Ou ganhando dinheiro através do sofrimento deles. Só com eles sofrendo não ganho nada, só graça. Quem sabe dessas até pensa que é destino, deus ou uma dessas coisas que só existe pra fazer rima forçada ou dar jeito numa métrica difícil da vida. Se não é aqui-se-faz-aqui-se-paga, verdade é que se fuderam. Acho que isso explica tudo: bem-feito.

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