Eu odeio admitir, mas eu sou uma
pessoa preguiçosa e hedonista.
Eu odeio trabalhar, mas sei que
vou ouvir “e quem gosta?” e antecipo: eu faço um monte de coisas que eu não
gosto pelo dia inteiro. Primeiro, eu não gosto de acordar, mas acordo. Eu não
gosto de lavar louça, mas lavo. Eu não gosto de arrumar a casa, mas arrumo. Eu
não gosto de sair de casa, mas saio. O problema de ter que trabalhar é que não
terá um dia em que eu acorde e diga: agora não. Não vou poder. Vou ter que me
arrastar até lá, forçada e fazer seja lá o que for que eu detesto por dinheiro.
Tem um tweet, que eu não sei de
quem é de tanto que plagiaram, que diz que o ciclo da vida é nascer, lavar
louça, lavar louça, lavar louça e morrer. Pois é assim que eu sinto minha vida:
é um conjunto de obrigações sem graça. Que o que quer que eu faça vai ser lavar
a louça porque louça acumulada na pia é pior que lavar a louça, só por isso.
Escrever, por exemplo. Fica a
pergunta: eu gosto de escrever? Não. De me comunicar eu gosto, de desabafar eu
gosto, mas criar histórias? Não, eu nem sei. E posso tentar aprender, eu sei
que é só aprender, mas... pra que, afinal? Pra ter a mesma emoção vibrante, só
que não, de ter a pia limpa? Dar aula a mesma coisa. Viver é a mesma coisa. A
gente só vive porque se matar é pior, aparentemente. Tem as coisas boas, tem
sim. Mas até elas, quando são só elas, enjoam.
Pois é, a vida é manter a pia
limpa. E comer é apenas uma pequena parte, que te enche se você comer demais, e
a maior parte da louça é o copo d’água que você bebeu nem porque estava com
sede, mas pra não ter, sei lá, algum problema urinário de novo. A vida é um
grande nhé.
4 comentários:
Me sentia assim a maior parte do tempo, até que a apatia tomou conta num nível tão bizarro que me fez simplesmente não cumprir mais nenhuma obrigação. Um belo dia a louça se acumulou e eu não lavei. Não lavá-la se tornou mais angustiante do que a ideia de lavar, mas ainda assim ela estava lá, suja, e eu parada.
Hoje luto todos os dias pra conseguir voltar a lavar a louça. Ainda não é automático, mas de vez em quando consigo. O que é corriqueiro pras outras pessoas se tornou minha luta diária.
Sei que parece bobo e dramático, mas eu só queria me sentir normal, lavando a louça e reclamando disso, ao invés de ficar paralisada, imóvel... Vendo tudo na minha vida se acumulando e degradando.
Me identifiquei total com o post e também com o comentário da Luana...
Pq na verdade eu sempre me sinto assim em meio às outras pessoas, pra mim tá todo mundo trabalhando e vivendo a vida e só eu que tô aqui, perdida, olhando o trem passar porque não quero fazer nada disso. É um pouco reconfortante saber que tem (mto) mais gente que se sente assim, mas sempre parece que mesmo essas pessoas se saem melhor nisso do que eu, haha.
Acho que a obrigação do trabalho pela sobrevivência tirou a graça da vida. Começamos a pensar tudo em termos de objetivo. "Fazer isso pra que? Fazer aquilo pra que?" E aí não encontramos um objetivo final e satisfatório pq, né, nesses termos, ele não existe. E o mundo foi inteiro construído em torno disso, desse negócio q não existe, ao mesmo tempo q eliminou todos os outros motivos possíveis. Desaprendemos a política do prazer pelo prazer, igual sei lá, os bichos quando brincam e tiram sonecas e está tudo bem. Desaprendemos a nos sentir vivos e a fazer o que bem entendemos com a matéria maleável de que nossa vida é feita. Aí não resta nada, só se arrastar e esperar que acabe.
Hello. And Bye. Thank you very much.
Hello. And Bye. Thank you very much.
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