Tenho tido esse sonho recorrente de que estou num avião e ele pousa no meio de uma rua, avenida, com tráfego de carros... não é exatamente um pouso forçado, porque eu só percebo que estamos pousados ao sair da nave ou ao olhar pro lado de fora. E é só isso.
Todos agem como se fosse fato comum, corriqueiro – mesma atitude que todo mundo adota quando o avião está levantando voo e eu fico nervosa, só eu noto que aquilo é perigoso.
Fico pensando o que isso pode significar, e ontem comecei a lembrar como minha vida se tornou um pouso forçado, como o do sonho, um avião que parou num lugar inesperado, do qual é difícil sair.
Até mais ou menos 4 anos atrás, eu queria muito ter filhos, adorava crianças e não podia entender quem não gostasse. Até 1 ano atrás eu tinha como maior sonho, maior meta na vida ser professora. Eram coisas que, de algum jeito, formavam minha identidade e que de repente se transformaram de sonho em repulsa – o pouso forçado num lugar inesperado.
Às vezes me sinto como aquele cara que disse que após um AVC mudou de orientação sexual, como se alguma coisa no meu cérebro tivesse mudado e me feito mudar junto, como se eu não fosse responsável por nada, como se eu fosse resultado de um cérebro quebrado, porque por mais que eu possa apontar uma ou outra causa para mudar de ideia, a mudança foi brusca – e profunda demais – para motivos tão pequenos.
O pior de tudo isso não é ter mudado de ideia – porque, de alguma forma, não acho ruim “a nova identidade”. O pior de tudo é a insegurança que isso me traz, de que não sei o que será no futuro, não sei pra onde vou, no que invisto (e SE invisto), nem sequer sei se largo de vez do passado, porque vai que eu volto a ser o que eu era? Ou ainda, vai que eu mude de novo pra algo totalmente novo? E aqui entra a parte em que do lugar onde o avião pousou é difícil, quase impossível, decolar de novo... Não bastasse não ter pista livre para tomar impulso, eu sequer sei meu destino. Pior ainda, eu não me sinto segura de entrar num avião que acabou de fazer um pouso forçado.
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