domingo, 5 de fevereiro de 2006

Porque eu nunca estou no alto quando quero voar

As pessoas se preocupam. Têm milhares delas. Todas elas achando que são importantes. Todas elas com alguém incentivando-as a pensarem assim. Porque outros a incentivaram a pensar assim ela passou isso adiante. Ah, a cooperação humana! E deu nisso: milhões de pessoas andando pelas ruas.
E todos defecam, mijam, falam sozinhas, e sei lá quantas coisas idiotas elas fazem sozinhas. E continuam se sentindo importantes. E se acham inteligentes. Por que eu acho que justamente esses são os idiotas? Por não verem [como eu, AH!] que também cagam, também contribuem, também tiram meleca do nariz e grudam sei lá onde... Mas, ó, eu tenho isso, eu sou foda. Foda. Foda! Quem é foda? Um ser com pele, crânio, olhos, nariz, boca, dedos, pés... e um bom gosto? Quais, dite-me, também quero ser assim, e ele também, e ele também, e ele também, e ele também.... Todos fodas. Todos lavam a mão de vez em quando. Dão uma balançadinha, ou passam o papel de trás pra frente. Ó, eu sou foda, eu passo da frente pra trás. Vou te impressionar e controlar com minha retórica. E morrer depois. Morrer com opiniões. Enterrado por um idiota, naturalmente. Eu tenho uma comunidade do orkut que diz "Niilista", digamos. Ó, eu grande admirador do nada sou tudo.
Minha boca seca, meus ouvidos criam cera. Meu cabelo, ó, tá lindo. No rigor da moda adolescente. Se eu colocar um óculos de aros grossos minha inteligência, também no rigor da moda, ficará evidente. Mas criticando isso eu já deixo em meu favor um grande estandarte.
Eu choro, eu grito no meio da rua, em meio aos cachorros e pombos e o cimento e as outras pessoas e os bares gastos. E me violento, e sou violentada, e violento e vivo e regida por uma opinião. A mais valiosa. Se eu gritasse agora... por que não grito agora? E saísse, andando, no meio da noite, sem bagagem, apenas andando, e andando até que algo acabe.
Mas casarei, terei filhos. Esses filhos terão as valiosas opiniões deles. E isso, na minha opinião, na minha humilde opinião, na minha melhor OPINIÃO.... é tudo uma grande perda de tempo. Com ilusões.
Queria estar na rua viciada. Ninguém nunca soube de nada. Mas não posso dizer isso. Só quando tudo acabar, vai ser. Nunca serão as palavras.
Só o delírio parece real. E eu me violento mais uma vez: continuarei sóbria, sufocando a gritante decepção pelo mundo com um sarcasmo frouxo. ISSO é que é estupidez. E é nesse momento que eu odeio as pessoas que amo.

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