segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

O que as formigas dizem quando se encontram

O advento da adolescência nunca mais foi o mesmo depois da invenção do blog. Adolescentes nunca mais discutiram com os pais, pelo contrário, ouvem serenamente tudo o que eles têm pra lhes dizer.
Pra decorar e postar em seus respectivos blogs e assim poder xingar por escrito e publicamente como pais conseguem ser escrotos. E como diria Shakespeare e Catulo e aqueles outros poetas da época de Catulo, o que se escreve é poderoso e dura para sempre. Suas musas e seus amores, assim, duram mais que construções, e de geração em geração o amor vai se transmitindo a cada leitor e... enfim, esse xingamento poderoso será transmitido por gerações de pessoas, e será mais forte que tudo, e por muitos, e muitos, e muitos anos seus pais serão lembrados como escrotos que foram, graças ao dinheiro e a oportunidade que eles mesmos deram. Por isso eu tomo pílula. E uso camisinha. E por isso não movo um músculo pra me indignar. Minha vingança resistirá.
- Ela está estudando lá em Curitiba.
- Oh, é mesmo, se fossem meus filhos eu não agüentaria!
"Seus filhos são uns incapazes dependentes".
- É, a gente tinha até pagado a matrícula dela numa faculdade pra ela aqui, mas ela preferiu ir pra lá... bom, eles que sabem, né?
"Peraí e aquela parte do orgulho, vocês pularam!"
- É...
- A gente foi até buscar a palavra pra saber o que fazer... e então um irmão levantou pra falar do filho adolescente. Contou que o filho estava muito revoltado, sabe, usando arma, queria sair de casa. Um dia ele voltou pra casa o pai foi preparado pra dar uma surra nela, mas então Deus disse "o que você vai fazer?", e ele parou, viu que não era pra fazer nada. Hoje o filho dele tá bom, até voltou pra graça...
"Claro, claro... caso similar ao meu. De vez em quando pego minha arma e saio atirando em homossexuais, aqueles seres impuros."
- É... Deus sabe o que faz!
- Então, ela fez cursinho três meses, daí parou e decidiu estudar sozinha, ela pegou os livros e estudou, estudou bastante...
"Estudei o caralho"
- Hum...
- Então nós deixamos ela ir pra lá, ela tem 18 anos, né? Sabe o que faz...
"Vocês deixaram porra nenhuma, Daniel que pagou a inscrição pra mim, desgraçados"
- É...
- Mas que bom, né? Passou, é difícil passar numa faculdade federal!
"Ah, a parte do orgulho!"
- É, Deus sabe o que faz, depois volta e fica tudo bem... é a idade.
"Ok, tá bom. Vamos combinar assim. Vou fazer um pacto com Deus, eu volto pra igreja, assim que ele demonstrar sua existência e onipotência com uma chuva de canivetes."
Quanto ao título. Estou lendo O Nome da Rosa e percebi uma coisa: monges e frades de séculos atrás e a minha família e sua religião não têm a menor diferença. É a mesma enlevação ao falar de deus, toda vez que se encontram não é pra falar "oi, tudo bem?" e sim pra falar "a paz de Deus! Como vai, muitas provas? Mas Deus sabe, o pequeninho vive de muito sofrimento, e Deus diz que o pequenininho sofre pra chegar aos céus, o caminho é estreito." e outras variações. E eu juro que eu não estou exagerando. Até falando do tempo eles incluem Deus na conversa. Saudade de quando era pecado usar o nome de Deus em vão.

Penitenziagite.

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