quarta-feira, 12 de abril de 2006

Um post, uma exposição, um texto, uma crônica, um registro...

Estou cansada, cansadíssima, em escala progressiva, aumentativa e que só tende a piorar tanto no âmbito hisótico-social quanto na área de pluriatividade cerebral e mental pessoal e coletiva, desse dialeto semântico-gramatical exclusivo, corrosivo, cansativo, impessoal e não benéfico que é o discurso acadêmico. Essa outra língua acariciadora e masturbadora de ego deveria ser extinta, exonerada, abolida, execrada, suprimida do nosso contexto social – sendo essa sociedade uma expressão representativa de uma conjuntura abrangente de todos os aspectos da vida do ser humano. Porque não só eu não entendo, nem quero entender e tenho raiva de quem entende esta verdadeira encheção de lingüiça e/ou de saco, como também muitos outros indivíduos excluídos ou não socialmente, e, se são excluídos, é justamente por causa dessa atividade segregadora, excludente e antiética. Neste sentido, é interessante apontar que esta desnecessária linguagem absurda e, poderia-se dizer, hipercorretiva e hipergeracional de preconceitos é um verdadeiro e significativo atentado aos sujeitos, pessoas, indivíduos, seres humanos que não a compreendem nem a detêm, ou seja, maior parte da sociedade brasileira. É importante salientar que esta deplorável, medíocre, antiquada, criticável atividade está visível e assustadoramente presente em discursos políticos justamente com a intenção maldosa e consciente de convencer, imputar, de forma enganosa, exploradora e manipuladora seus discursos com presença e/ou falta de opiniões e argumentos.
Em suma, pode-se concluir de tudo isso que vá se fuder, puta que o pariu, hem?! Vá tomar no cu na casa do caralho essa linguagem escrota, se é que fui suficientemente clara. Vale acrescentar, ainda que redundantemente: puta merda, viu?!

Enfim, tenho tido aulas, prova e também ajudei com um capitulo de livro no estágio, tudo isso com esse língua irritante. O Daniel até tentou me consolar da raiva que eu estava no domingo ao estudar pra maldita prova de Literatura colocando uma almofada na minha frente e dizendo: "Bata nele, vai, Marcely, finge que é seu professor", e fazendo voz de imitação "Por favor, por gentileza, por obséquio, Marcely... bata em mim!".
Mas não é justamente isso que a gente vê em Lingüística? Que usam essa linguagem pra, por meio de retórica, manipular as pessoas? E, olhem só que coincidência!, pra ser pastor na IURD precisa aprender retórica antes. Lindo! Aí as professoras querem que a gente tente incluir todas as pessoas no domínio desse tipo de linguagem pra que não haja esse preconceito todo que a gente tem, por exemplo, por pessoas que falam "é nóis na fita, ladrão!", que além desse dialeto vão saber dizer “somos nós na faixa, na película, no videotape, senhor criminoso, desonesto, golpista, desordeiro, vigarista!", além de interpretar os outros mal intencionados que a usam. PRA QUÊ?!! Nem as pessoas que entendem esse tipo de dialeto sabiam usar antes de aprender na escola! É a gente que cria essa diferenciação. Nós professores que inserimos na sociedade mais esse tipo de preconceito lingüístico gratuito. Gratuito porque não ajuda em nada na comunicação, pelo contrário! Isso é valorizar a forma e sapatear no conteúdo.
Aí acaba ocasionando esse tipo de vácuo cerebral como se tivessem posto de molho na cândida seu cérebro por horas e depois torcido, torcido, torcido, torcido até ficar bem limpinho e enxuto e, saindo de lá, você percebe que nem lendo Harry Potter, nem vendo Malhação, Mariana da Noite ou Belíssima você se distancia tanto da realidade.

Dou 5 reais pro cobrador.
– Tem 30 centavos?
– Não sei, deixa eu olhar... – acha os 30 centavos e dá. O cobrador olha um pouco para o horizonte e devolve 3,50. Você sorri e gira a roleta. Senta, lê um pouco, pára de ler porque já ta ficando zonza (não pela leitura, mas por estar sentada naquele banco que vai de costas), começa a pensar sobre o troco. É 1,80... 1,80... dei 5,30... 5,30... 3,50... 1... 1,80... 5,30.... ou 1,80 e 3,50? 5,30... não era 5,20? 5,10... 3,50, aí sim! 1,80... 5,30... Puxa, faltou 20 centavos, nem vou reclamar, sou preguiçosa boazinha.
Não vou conseguir descobrir meu ponto de trás pra frente, vou levantar. Hum... está longe... Então vamos pedir o troco.

– Moço, ta faltando 20 centavos, não tá?
– Não... quanto você me deu?
– 5,30. Você me deu 3,50...
Ele tenta ser solidário:
– Sim, e é 1,80 a passagem, né?
Recuso a ajuda e continuo me humilhando
– Eu sei! Então... 5,30... 3,50... Eu devia dar 5,10, né?
– Não, a passagem é 1,80...
– Mas então! Peraí... 5,30, 3,50... 5,30 mais 1,80... 3,50... – conta... somar... somar... ah, alguém me ajude! – Er... Ih, tá chegando o meu ponto! Deixa pra lá, nem ligue, eu faço Letras! – sorrio amarelo.
Desço, vou fazendo as contas por 5 quarteirões até que eu descubro entre derivadas, regras de três e incógnitas que era só somar 3,50 mais 1,80.
– Ah, era 3,50 mesmo...!
Perfeito! Quem precisa de matemática quando sabe tudo sobre alomorfia morfofonêmica e alternância vocálica redundante e não redundante, né?

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