quinta-feira, 6 de julho de 2006

Coitadinhos... eles estão emporcalhando a minha paisagem!

Vamos pôr meu pensamento em ordem. Ele diz que eu preciso ajudar as pessoas, que meu individualismo/egocentrismo é bem confortável, amparado por um cinismo e uma generalização medíocre e que me torna aquele tipo de pessoa que eu não gosto: advogados, políticos corruptos e cínicos afins. Que eu sou capaz de ser teórica, mas não ajo, e culpo os outros por tudo ser assim ruim. Eu sou uma hipócrita que se redime assumindo os próprios erros com sarcasmo e vivendo como se fosse deus para o mundo: só observando. Tudo isso pode ser bem explicado pelo que eu também sou do outro lado, sou de não achar que é defeito o que eu sinto. E o que eu sinto/percebo/cheguei a conclusão sobre o mundo é que fazer não ajuda muito, que muitos fazem por si mesmo, ou pra se retratar dessa culpa que eu também estou sentindo, ou porque quer, como eu, livrar a face da terra da feiúra da miséria, por puro capricho e futilidade. Não há nada de altruísta realmente, e eu realmente não acredito nisso, é algo que já me tolhe. Eu podia mais uma vez assumir uma pose de personagem machadiana e sorrir com superioridade para este mundo perdido, sabendo que enfim eu vou morrer, eles vão morrer, todo o mundo vai morrer, eu só tenho essa culpa porque eles são da minha espécie e tralálálá, todo esse fatalismo que eu tenho e não ignoro nem quero mudar, seria falso comigo mesma porque eu acredito nesse fatalismo, ou nisso que é rotulado como tal e é geralmente atacado como ruim pelas nata da sociedade intelectual... há! Mas é o que sinto, não vou ignorar só para ser feliz, entendem? Não dá, está lá, ignorar seria sufocar uma idéia dentro de mim e eu tenho como rito religioso jamais me sufocar as idéias por medo de sufocar a mim mesma.
Esse é um post seco de confessionário, estava na hora de usar isso como puro e simples diário virtual, não que eu não tenha feito isso das outras vezes, mas por uma ou outra coisa eu usava um pouco de estética ou de discurso ou de estilismo, que seja.
Claro, essas idéias que eu também não reprimo para não me reprimir e ser livre acabam me esmagando de qualquer forma... com minha fácil tendência de generalizar eu concluo: o mundo é mesmo essa ambigüidade, não importa aonde você vá – para a esquerda, para a direita ou para o meio (isso me lembrou a propaganda da campanha da fraternidade), você sempre receberá a mesma recompensa – impossível ser livre. Mesmo o meio, digo isso e fico pensando porque talvez um sábio oriental dissesse (imaginem aqui o Miagi do Karatê Kid): os extremismos só levam à perdição, o caminho certo para a liberdade é o meio. Mas ainda seria uma liberdade com gosto de chuchu, de quem não se arrisca nem tem paixões.
Paixão... eis outra coisa que me faz ser o que sou, eu sou uma apaixonada, talvez porque tenha nascido e sido criada por uma escorpiana do mal (todos sabem que esse signo é mal, visceral, esquentado, sádico, luciferino, né?), essa minha paixão que me leva a sofrer com tanta força as coisas, me magoar tão fácil com a vida, como se fôssemos amantes mal-resolvidas que só se divertem na cama – eu já escrevi um conto ruim sobre isso – tudo isso me faz chorar aos gritos, cortar os pulsos ao menor sinal de ciúme, de perdição... enfim, me emociono fácil, fácil com essa merda patética de vida (a gente só se dá bem na cama e eu ainda tenho dor de cabeça na maioria das noites!). Mas, do mesmo jeito que me esquento com a vida, sou lânguida como água no fundo do meu ser, acho que eu muitas vezes me esquento de propósito porque é preciso ser ou não ser, e o não ser sendo é mais terrível ainda. A vida me desencanta, me dá vontade de dormir e dormir porque já está tudo perdido e infalivelmente desnecessário (imaginem aqui o meu amiguinho Marvin do Mochileiros, queria ter um robô daquele pra me fazer companhia!). Eu podia estar sendo sarcástica agora pra não receber de vocês comentários do tipo: tome prosac, vadia; geralmente eu tenho senso de humor pra afastar tudo isso (que de qualquer forma é uma fuga boba de ser não ser aceita), não sei se vocês já perceberam porque por mais que eu ache que escrevo as coisas simplesmente fácil de entender o povo entende outra coisa, a interpretação é uma coisa muito estranha mesmo... e como eu "erro" também, prefiro achar que interpretação diversificada é uma coisa muito bonita na vida. Outro dia estava olhando pra minha própria sombra – pra criar aquele efeito de escritora melancólica bonitinha, ahã – e criei uma metáfora que não achei nem um pouco interessante de ser passada pra frente, na certa muitos filósofos já pensaram isso antes, o que me faz lamentar um pouco ter nascido tão tarde – eu já falei sobre isso outras vezes, é. Bom, eu reparava que minha sombra não tingia totalmente o chão de negro, não, as pedras continuavam coloridas, mas um colorido mais opaco dentro das nossas proporções também meio incertas, um cinzento meio distante da realidade da cor das pedras. Sendo assim, as interpretações seguem o mesmo rumo: dentro de nossas idéias e valores e sobre a vida e a idéia de si mesmo (que também é meio incerta). Legal pensar isso das interpretações, porque talvez elas tenham um pouco de nós mesmos, ou um muito do que nós somos, aí está o bonito das interpretações, esse é o conjunto que só nos temos (talvez, há tantas pessoas e combinações na terra...).
Mas voltando ao que me oprime: eu não faço nada por ninguém porque sou fatalista e cínica, isso me ajuda a continuar sendo um ser humano egoísta e ruim – por mais que isso seja relativo, mas, objetivamente, a relatividade não é interessante pra quem tem fome.
Outra coisa que me tolhe é minha preguiça de fazer algo, geralmente eu estou muito ocupada fazendo coisas pra mim mesma e isso também não é muito. Mas sejamos bem maus: o que é que o mendigo faz por mim? O que ele faz por ele mesmo? Porque ele não FAZ alguma coisa? Outro dia pensei em dar um chacoalhão neles e dizer: sai dessa, cara, vai estudar, é de graça e pode te trazer novos horizontes, te trazer uma vida de verdade, você pode conseguir um emprego, um dia uma casa e se sentir importante. Ou se mata. Ainda me pergunto o que tem errado nessa minha idéia... Será que é porque eu também dependo muito de esmolas dos outros? Seja... mas eu também busco me desprender desse vício, por mim mesma, porque eu não acredito na caridade dos outros também, seria desesperador precisar da ajuda de alguém pra comer e não ter... como eles. É preciso fazer ALGUMA coisa... e embora a ajuda imediata de dar esmolas seja objetiva e mate a fome, se formos terra-a-terra (coisa que eu não sou mesmo), é claro que essa dependência vai ser uma subvida eterna e me deixa culpada pensar: eles não se podem se dar ao luxo de comer quilos de chocolate porque estão tristes, ou de fazer teorias filosóficas inúteis que lhes permitam transcender inutilmente, ou ler algo que lhes faça sentir que o mundo é bonito. Talvez eles só passem o dia pensando em comida e cama, comida e cama... É preciso dar pra eles algum sonho, não é? Não que eu seja mais feliz que ele porque penso em coisas (sou mais feliz, sim, por comer coisas, mas não por pensar)... mas é necessário que eles tenham expectativas... que eles se sintam humanos como os outros. É isso que eu acho mais injusto: não é o fato de eles sentirem fome tanto, ou o frio, mas o fato de eles não se acharem nada. E isso é um valor meu, de qualquer forma, é algo que acho importante pra viver de verdade, não seria também isso o que eu devia lhes dar em vez de um dinheiro imediato porque o que eu sou é uma pessoa subjetiva? Eu serei professora, eu ajudarei pessoas um dia. Mas ainda não é agora, e agora ainda existem milhares com fome e pressa.
E se eu desse aquilo que eu acho mais importante e necessário: carinho e atenção? Eu tenho medo que eles me agridam, essa é a verdade. Eu não sei qual será a reação... poxa, tenho medo de ser repreendida, mal entendida, afinal estou frágil a milhões de críticas... de qualquer forma ninguém está imune a elas, nem deus!
Vamos fazer uma corrente do bem, então, assim eu me sentirei fazendo algo. O próximo mendigo que virmos – se não tivermos pressa – vamos conversar, perguntar o que ele faz da vida, o que ele quer para o futuro, o que ele pode fazer pra sair daquilo. É uma ajuda, não é? Como aquelas frasezinhas clichês: ajudar a pescar e não dar o peixe. É uma verdade, é ou não é? Mas voltando a mim mesma, eu não consigo achar tempo, eu tenho meus próprios problemas, e estou me afogando neles. Eu não tenho amigos, vida social, nem tempo pra me divertir, eu preciso disso... sabe o que mais me deixa encafifada? Inexplicavelmente, se todo mundo tivesse a força do egoísmo que eu tenho, todo mundo seria feliz e teria oportunidades no mundo.

(mesmo assim, não seriam os mendigos uns egoístas acomodados como eu?)

Eu e minhas generalizações!... E ambivalências... ?!

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