terça-feira, 26 de setembro de 2006

As Bolhas

Era bem fácil dizer que sou só uma garota mazoquista e pessimista e se não sou feliz... pelo menos alegre, é por culpa única e exclusivamente minha. Mas nesses dias em que tenho realmente me esforçado pra me divertir, tentar tornar as coisas melhores... não adiantou, fiquei cada vez pior, com a idéia de que... não sei que idéia, mas fiquei bem... é, é clichê, mas vazia. Não escrevo a o quê...? Dois meses, praticamente, e isso entre outras coisas (entre tudo) tá me deixando bem nervosa. Mais e mais... vazia. Então o máximo que consegui exprimir foi uma metáfora bobinha, possivelmente batida, para o Dã, de que eu me sinto como aqueles sacos de líquidos com bolhas de ar... e por mais que você tente eliminar as bolhas de ar apertando, fazendo movimentos... mais aumentam as bolhas. E nada.
Eu queria poder trazer beleza, criar beleza, viver beleza... pra mim é o que permite a felicidade: a beleza, a boa sensação. Não bastaria só contentamento, embora servisse... o contentamento. Mas o contentamento é feio, seria acostumar com a feiúra e se iludir que é bonito. Não é por isso que se poderia dizer que é horrível? O mundo seria perfeito se a gente apenas se conformasse. Eu quase escrevi um post cínico sobre isso.
Mas seria uma perfeição apenas ideal, de olhos bem fechados. Apesar de... se são apenas conceitos... tudo: a beleza, por exemplo, bastaria. E seria bom. Mas e a beleza com a qual eu sonho? A minha beleza, a beleza de fora e de dentro de mim, pra começar... a beleza do que me cerca e depois... fazer beleza... Era só isso o que eu queria. Só, ha!
Eu escrevo esse post extremamente ruim só pra readquirir o hábito, pra me sentir melhor também. Pra, quem sabe, voltar a melhorar por dentro e pelo que crio. ...Por enquanto eu não crio nada.
Quando criança, como quase toda criança, eu costumava sonhar o dia inteiro que eu era outra pessoa - bonita - que eu vivia outra vida - cheia de dramas, coisas e paixões -, e eu mal podia ficar parada que não sonhasse assim. Eu era mais outra do que eu mesma. E eu vivi assim até muito tempo... acho que até conhecer o Daniel que foi quando eu pensei que não precisava mais de sonhos - ele já permitia isso - que Curitiba já era o lugar ideal... E agora não sonho mais. Mas minha vida, ao contrário do que eu pensava que quando eu crescesse e conseguisse o que eu queria - isso era óbvio de prever pra qualquer um que pensasse racional e amargo - , minha vida ficou tão sem graça como sempre foi. E não foi bem algo que eu não esperasse, eu fui educada a pensar racional e amargo pra evitar decepções... e mesmo assim me decepcionei, não é? É... E minha vida continua a mesma vida de antes. Em que se eu sonhasse seria muito melhor, porque invitavelmente a vida nem chega perto de imitar a arte - ah, eu li demais! -, a gente faz cocô, xixi, a gente come sozinho, a gente pensa demais em coisas inúteis e tem dias que passam batido. Pra mim isso é sempre, todo dia, doloroso. Eu podia querer voltar a sonhar... mas eu não acredito mais em sonhos. E eu queria criar, realmente, em vida uma vida bonita e intensa. Mas as pessoas que me cercam parecem - apesar das exceções, mesmo elas muitas vezes, mesmo eu -, parecem querer adaptar-se ao mundo e ser comum. E ser utilitárias, pragmáticas quando... quando isso é tão antiliterário e antiartístico que... que a vida perde sentido mesmo é quando as coisas são necessárias, agora eu vejo diferente! Eu achava que seguir os passos comuns me redimiria dos pensamentos aflitivos, mas... Não, é justamente isso que eu quero: um mundo mais desnecessário em que as coisas são de simples prazer estético. Se fosse possível... será? Se alguém achar que é possível por favor mude pra cá, venha viver a poucas quadras do meu apartamento.
Eu vi e revi e revivi Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Esse filme me traz justamente essas sensações... ou melhor, as desenterra. Eu tenho meu lado Clementine - embora só nas problematicices, como eu queria ser bonita igual! Sem me sentir uma insegura querendo fazer cópia... Mas não vem ao caso. Quantas cenas daquelas - merda, eles perderam aquelas cenas! - eu queria estar vivendo. Sendo bonita, tornando as coisas bonitas. Meu deus, eu seria tão feliz!
O problema é que não sei encontrar lagos congelados, praias frias, criatividade pra nada.
Queria um/a amigo/a Clem. Eu já tive uma amiga parecida. Que mudou, que pena! Foi tão frustrante que acho que foi um dos meus primeiros choques da pré-adolescência. Meu primeiro ídolo que se quebrou. Depois disso dias inteiros sem sair de casa. Ninguém mais me viu. Ninguém mais me reconhecia. O meteoro incandescente que prometia me tirar da mesmice e... se foi. Porque era meteoro, afinal. Fiquei sem chão, sem o meu prazer estético, sem querer mais ter surpresas. Talvez ela não fosse tudo isso, mas pra mim foi tão formativo como a primeira literatura que questionou meus valores mal-digeridos. Porque me mostrou e me proporcionou um mundo totalmente literário - como eu sonhava! -, um mundo totalmente diferente daquele que eu me sentia presa por dogmas da minha mãe. Um mundo que no fundo eu queria, como eu queria!, mas não sabia como conseguir. E então ela foi referência. Eu quase me submetia - é claro que essa parte era ridícula. Mas sinto falta de ter alguém assim pra admirar, pra me fazer ver coisas fora do comum. O comum que me irrita.
Pior é que não encontro mais ninguém assim. Às vezes acho que olho pra cada fagulha de pessoa que brilha entre as outras e percebo que pelo menos 60% daquilo ali não é originalidade, é vontade de ser aceito mesmo. É claro que geralmente é com todo mundo assim, mas... Mas eu queria alguém realmente questionador, realmente fora da multidão, que me proporcionasse coisas novas, alguém criativo. Aí eu tento me acostumar com as pessoas comuns - que também tentam ser aceitas do mesmo jeito, mas que pelo menos ainda procuram um pouco de originalidade individual mesmo que hipotética... Porque as originais plásticas são só parte de um grupinho que se acostuma em ser diferente por grupo, não por indivíduo, aí está a parte pior. E eu queria ser a fagulha original. Mas não consigo por insegura, por não conseguir imaginar além do limite, por medo, por costume... Por achar que se tentasse seria, ao contrário, anti-personalidade.
Algo novo que me impulsionasse... só isso. E intensidade. Coisas que não consigo desse jeito: lendo xerox, fazendo escaneamento, trabalhando em algo só pra ganhar dinheiro, assistindo aulas mais pra ganhar presença, sorrindo mais pra ser simpática, vivendo mais por hábito, não tendo um segundo sequer de verdadeiro prazer. Por tudo isso o filme me dá um mal estar constante. Por isso hoje acordei chorando desesperada, e estou sentindo um peso de um quilo no peito. E por isso também tenho andando meio (totalmente!) obsessiva com coisas aparentemente sem sentido, babacas mesmo, como mudar a cor do meu cabelo cada vez mais, cada vez mais forte, cada vez mais vivo, vivo, e fico frustrada porque parece sempre absolutamente normal, comum e... E eu não consigo encontrar solução! - é óbvio porque não é a partir disso -, nem paz em nada.

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