quinta-feira, 5 de abril de 2007

Viver, Verbo Transitivo (e Indireto)

Na verdade, nada mais que a verdade, o mundo é feio e burro. Derrotadas todas as coisas que nos fazem ver o mundo com lentes cor de rosa, é sempre a mesma coisa. Sem lentes cinzas. Não é – como quero acreditar para me encaixar nessa bosta de sociedade fútil – uma coisa boa, uma coisa ruim, o caminho do meio e nossa percepção que varia (embora esta lógica pareça tão... lógica). Na verdade o mundo é muito feio, podre, egoísta, ruim, sem chance de melhora. Eu sei que sou suspeita pra falar.
Voltando a me justificar, ser gótico (ou emo) não é intelectualmente fashion – simbolismo is sooooo last week! Então as pessoas se colocam numa posição vanguardista de "nem me fede nem cheira", bem assim, blasé. As pessoas são apolíticas. As pessoas são niilistas. As pessoas não fedem nem cheiram como o mundo que elas acreditam que as cerca. Há uma congregação, no curso de Letras e sei lá quais mais, de revirar os olhos quando algum fiel revolucionário popular ultra-esquerdista máster plus aparece. Todos são contra. Eu acho que uns são verdadeiramente contra. Outros são convictamente contra porque os outros são contra – e também reviram os olhos e riem, mas não perguntem bem porquê, eles não sabem com certeza. Os últimos, eu acho, são a grande maioria. Eu não reviro os olhos, mas me pergunto porquê a cartilha dos bons costumes do intelectual-blasé me dita revirar os olhos para os revolucionários popular ultra-esquerdistas. Porque, afinal, retirando o fato de eles serem crentes fanáticos de uma causa o que – oh! – é motivo suficiente para um intelectual blasé duvidar da intelectualidade (que precisa ser blasé) do próximo, às vezes, tentando eliminar toda a tendenciosidade que todo politizado irá ter na defesa de sua causa – seja Jesus, sejam os pobres, sejam os ricos, seja a Educação, seja a Família, seja... enfim –, oras, o que os impossibilita de ter alguma razão? O que nos impede de tomar um partido, fazer uma coisa se acreditamos que ela é pelo nosso bem? Inércia, vergonha de infringir a lei da cartilha do intelectual blasé? Afinal o nada não existe, uma pessoa isenta em tomar partidos não existe.
Nossa crença se baseia na aparência, na identificação. Nós somos o que acreditamos sempre. Um niilista de verdade não vive se tiver psicológico. Aliás, como niilista que sou, diria que não existem niilistas (essa frase ficará pra posteridade ú.u). Nós, nessa era consumista e tecnológica (se isso fosse um texto acadêmico ganharia pontos pelos dois adjetivos anteriores (eu coloquei lá porque é bem intelectual-blasé fazer graça de lugares-comuns não tão lugares-comuns para os camaradas operários)), nós contemporâneos do século XXI e arredores, nós todos, embalados (!) pelo consumismo que já citei, nós todos, ó irmãozinhos, nós nos congregamos única e exclusivamente ao redor de uma única coisa: aparecer. Tudo o que somos nada mais é do que a única coisa que nos importa e que nos resta fazer e que sempre nos foi e será tão cara: nos encaixarmos. Vivemos numa era adolescente-sem-causa-que-se-apega-a-crenças-por-identificação. Identificação, a identificação do Freud, o mecanismo de defesa que na xerox que eu li é definido assim:

"Diante de sentimentos de inadequação, o sujeito internaliza característica de alguém valorizado, passando a sentir-se como ele. A identificação é um processo necessário no início da vida, quando a criança está assimilando o mundo. Mas permanecer em identificações impede a aquisição de uma identidade própria. Os movimentos fanáticos também se estruturam sobre a identificação: pessoas que se sentiam vazias passam a sentir-se valorizadas por se identificarem com o líder, ou com as propostas do movimento..."
(Mais pontos acadêmicos pela citação!)

O que eu quis dizer até aqui é que tanto o time dos revolucionários quanto o time dos intelectuais blasés (e também o time dos religiosos que eu deixei de fora porque esses são óbvios), todos se estruturam por Identificação. O mundo todo, o mundo todo é assim – menos os niilistas que não existem.
A Identificação é o ponto de apoio da sociedade contemporânea, que é tão vazia de sentimentos próprios (que inventa, inventa, mas não cria nada, afinal nada se cria, nada se perde...... e nem os direitos autorais por esta frase algum artista contemporâneo consegue, pobrezinho, corre a conceitualizar que silêncio é música, que privada é fonte, que o céu é verde, mas tudo, tudo não é dele – por isso que digo que um artista não pode pretender só inovar, a inovação é uma farsa).
Voltando a explicar porque o mundo é ruim, ruim, ruim.
As pessoas não crêem de fato em alguma coisa, elas crêem que crêem, por identificação. Uma pessoa, que me viu como um bicho estranho e raro, me perguntou no que um ateu acredita, como é (interessante entranhamento inconsciente da certeza de que seres-humanos precisam acreditar em algo – uma verdade). Pensei em responder que acredito naquilo que acredito – assim como ela. Mas ia ficar uma fase pedante e babaca. Eu acredito na ciência, nas coisas que já foram provadas com invenções como a do telescópio, por exemplo ô.o. Essas coisas que, por si próprias, já deveriam há muito tempo ter revelado às pessoas que essa coisa de deus (pelo menos na descrição bíblica que conheço) não existe. Seria algo assim. Um ateu crê em muitas coisas, mas não crê-se, ingenuamente, tão importante a ponto de um ser celeste ultra-high fodão tê-lo criado exclusivamente – à sua imagem e semelhança – para ser fodão aqui na Terra. Não explico a minha necessidade de ser importante dessa maneira, transforma-a de outro jeito – me iludo de outro jeito. Acho extremamente ininteligível ainda existirem escolas atreladas à religião (e que, apesar disso, ensinam darwinismo!!). Não me venham com aquele sofisma de que uma coisa não anula a outra, fazendo paralelo entre o criacionismo da bíblia e o evolucionismo como se um fosse simbolismo do outro. Ou de que a religião é necessária, por isso se acredita nela. Que não acreditem em Darwninismo, que nem saibam o que é, que acreditem em Deus eu aceito por três motivos: ou por ingenuidade (de quem nunca nem ouviu falar de que existe coerentemente outra opção), ou por ignorância, ou por necessidade cavalar de se iludir mesmo. Crer em deus, pra mim, sem maldade, sem vontade de me afirmar em cima dos outros, crer em deus pra mim é uma teimosia universal de "crianças" que não querem abrir mão de "ganhar presente no natal". Ponto.
Eis porque eu volto à minha teoria de que nossa sociedade age em grande parte por mecanismo de Identificação. O mesmo com a religião: a crença não é o verdadeiro motivo. Me refiro à crença na própria religião. Acredito, como já disse, que há crença na crença da religião. Assim também há crença na crença das outras vertentes: na linha intelectual em voga, na música, na moda etc. Ou seja, hoje em dia (ou sempre), as pessoas acreditam ou são só por moda. Eis porque, pra mim, o mundo é ridículo. As pessoas estão ilhadas em suas convicções próprias, e em seu egoísmo que também é um mecanismo de defesa: pra defender aquilo que defendem (!). Eis porque há individualismo e as pessoas vivem naquela famosa solidão compartilhada. O mundo é uma experiência, solitária, fútil. E nunca vai melhorar por isso mesmo.
Para os niilistas que não existem está reservada a outra resposta que eu dei: eu acredito em mim mesma (que nada mais é que um breve resumo de tudo o que eu disse). A única crença possível é no ego, a única fé que nos resta é nosso orgulho – o qual é, pela eterna descrença, frágil.
Abalado nosso orgulho, entendemos porque as pessoas seguram tanto com unhas e dentes suas crenças e ilusões. Totalmente descrentes ficamos para morrer. Acertado que "viver" é um verbo transitivo e indireto e quem vive, vive por algo... ou Alguém.
Sobra para esse descrente, reavivar seu orgulho de alguma forma (da mesma forma que uma fé abalada vai correndo rezar procurando respostas). E então, é assim que se explica como surgem posts quilométricos em blogs quase abandonados.

Um comentário:

Anônimo disse...

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