quarta-feira, 7 de março de 2007

Sobre a maturidade ou Mais um da grande série: filosofia para comodistas

Tenho andado bastante satisfeita trabalhando como professora auxiliar, mas têm momentos – até muito freqüentes – que, por algum motivo, isso me faz desiludir profundamente com a espécie humana (ui!).
A verdade é que dentro de sala de aula, como estou trabalhando com 5ªs e uma 7ª série, aprendi a subestimar meus alunos. Não no potencial de inteligência, obviamente – é moral, ético, eficaz e acima de tudo senso comum, acreditar e demonstrar essa crença na capacidade dos alunos pra que eles mesmos creiam em si mesmos e se desenvolvam sem limites. Mas o que eu subestimo é a maturidade deles. Então vocês pensam: ahmdãã, é óbvio que pensa assim, eles têm 11, 13 anos... Mas é justamente esse o problema! Eles não deixam de assumir responsabilidades próprias, não deixam de desempenhar um papel social, enfim, não diferem praticamente NADA de adultos de 30, 40, 50 etc... a não ser em idade e nos papéis que têm que desempenhar. Eles não sabem coisas, assim como nós também não sabemos: simplesmente porque ainda não lhes foram apresentadas. Afora isso, mesmo podendo bater na tecla de que eles não têm EXPERIÊNCIA, é justamente com isso que meu senso crítico prejudicado está se debatendo. Ok, eu já disse que é isso que os diferencia de nós – eles não sabem o que é ter que se sustentar, por exemplo, porque não experimentaram isso e blábláblá. Mas o que me deixa assustada é que, justamente, esse quesito experiência/maturidade pode não ser um aspecto relevante (é nossa experiência diferenciada que nos faz quem somos: indivíduos únicos (no sentido relevante e questionável de único, afinal sempre imitamos os outros). Então, essa experiência que nós temos e eles não, não seria apenas individualidade?). É, nós vivenciamos e apropriamos mais informações sobre o mundo do que eles, talvez, isso nos faria superior. Nos faz? É isso que me encasqueta: parece que não! Talvez NÃO seja. Talvez realmente não exista essa coisa de superioridade, só diferença mesmo – como os mocinhos defendem. Meus alunos conversando entre si, com suas preocupações e interesses, só mudam em tamanho físico dos adultos na sala dos professores. Nada muda: é o mesmo fingimento de se acreditar que a sociedade é uma verdade absoluta, de que nossas ações são reais, autênticas – como se não pudesse haver outra, não houvesse dúvidas. Aquilo para o qual fomos treinados, condicionados: mentiras – ou pelo menos só parte da verdade – coletivas desde criança.
O pior de tudo é que, ao invés de com isso eu valorizar meus alunos, eu passo é a subestimar também os adultos (fruto do meu senso crítico prejudicado, é, eu sei. Isso porque minha consciência não é boazinha, programada pra me fazer otimistamente feliz. Ela é programada pra me fazer, apesar de pessimistamente, sempre com a razão – porque, escrevendo isso, pude ver milhões de conclusões mais sensatas, possíveis até de uma tese filosófica, sociológica, enfim, alguma coisa maçante que possivelmente já foi teorizada melhor por aí – fico feliz de poder dizer que cientistas exímios não são bons literatos (escritores de literatura têm que ter uma mente inexata, desconfiável mesmo), mas isso, eu sei, é mais fruto da minha mente que quer sempre me dar razão: sou uma comodista inveterada (mas pelo menos inteligente o suficiente pra passar por uma pessoa de opinião conscientemente formada – pelo menos pra quem é ingênuo de não perceber meus sofismas)).
Mas, concluindo a minha idéia: fico vagamente perturbada toda vez que vejo uma pessoa de 60 anos agindo igualzinho a um aluno qualquer que mal tem condições de ter noção do quanto é manipulado e subestimado numa sala de aula. E mesmo eu, eu também agora pareço flutuar, mentir, sorrir, agir ainda mais hipocritamente – não só por estar me esforçando pra me socializar (o que não é meu talento), mas por ter mais consciência de que eu não passo de um ser humano boboca e com crenças impostas.
Pelo menos agora essa visão negra do meu mundo não me faz querer cortar os pulsos, ou me jogar do prédio, ou simplesmente lamentar e divulgar essas idéias nunca postas em prática. Devo ter amadurecido...

Nenhum comentário: