terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Sabe aquela frase do nada está tão ruim que não possa piorar?

Eu me sinto um pouco vazia, se bem que cheia sentimentos – de dor. Creio que sentir vazio por tédio, talvez, realmente seja pior. Embora eu ache que eu nunca chorei tanto por tantas horas e horas seguidas, sem nunca sentir que bastou o suficiente.
O que me dói é que antes escrever para cá podia ainda ser um alívio... escrever qualquer coisa, ou ainda trabalhar, ou ainda tinha alguém com quem podia contar nessas horas. Agora até dividir minhas palavras com alguém aqui me faz me sentir imensamente solitária. E isso dói realmente. O sentimento de rejeição. Várias e várias vezes sobreposto.
Eu não quero necessariamente me matar. Apesar disso, muitas vezes eu não sei mais o que fazer comigo: embora queira continuar com a minha vida de tudo quanto é jeito, eu me sinto paralisada para tomar qualquer atitude. Então desespero. Penso: tenho que me matar, não consigo lidar mais com isso, está fora do meu alcance!
Como quando fiquei doente, queria que alguém me cuidasse, só por enquanto. Queria poder pedir férias do meu estágio, só por um tempo. Poder ficar paralisada sem culpa. Como me localizar, se tenho tantos outros afazeres, e fazeres, e fazeres me atravancando o caminho?
Tudo o que fiz: errado. Volta atrás, começa de novo.
Mas pra começar de novo, eu preciso de algum encaminhamento, de algum sentido, alguma noção do que fazer agora.
Pedi licença para me ausentar hoje. Mesmo com o aluno acidentado precisando de matéria – ele, com seu motivo forte pra doer, indo em frente, estudando aquelas coisas todas na maioria inúteis.
Mas, egocentrismo, falta de dados ou não, eu acho que a dor na mente é a pior de todas. Tanto é que as pessoas dificilmente se matam por conta de fome ou de doença, ainda que tenha o caso da eutanásia. Muita gente quase morre de fome e ainda corre atrás da comida, de sobrevida. Para alguns, a sobrevivência é que é o mais complicado. Coisas da mente...
Eu morro de dor e procuro alívio, mas não sei onde.
O problema é que a vida é muito complicada, não há um remédio exato. Não tem médico que me diga: não tem remédio pra isso, ou você tem 1% de chance fazendo o tratamento x, caso o negócio fique complicado. Você ainda sabe as opções com clareza.
Já na vida, existem milhares de caminhos, e todos muito incertos. Um dele é tentar continuar de onde estava, mas não necessariamente de lá porque eu não serei a mesma, nem ele. É claro, eu sei que jamais vai ser como antes, é isso exatamente que me dói, eu era feliz antes – e sabia.
O pior é que eu não me sentia fazendo nada de errado. Eu buscava minha felicidade, eu procurava proporcionar ela para os que me proporcionavam, eu tomava decisões bem pensadas, pra nunca perder o que me importava. Como isso não adiantou? É uma coisa que dói, pois faz pensar: não importa o quanto eu tente... eu nunca vou ser feliz.
Não que eu fosse feliz, feliz o tempo inteiro, eu sabia que nunca iria ser. Mas sentia que minha vida estava estruturada, e era só isso. A gente precisa de amigos, de amor e carinho pra poder fazer todo o resto. Foi a primeira coisa que cheguei à conclusão depois que saí da casa da minha mãe.
Mas uma das coisas que cheguei à conclusão agora é que, sendo mais egoísta, as pessoas vão me amar mais. Ninguém quer sacrifícios, pois consideram isso falta de auto-estima.
Mas, o que reconsiderei é que egoísmo não gera necessariamente amor. Nem, no meu caso, quer dizer de fato que eu tenha auto-estima. Pelo contrário, fato é que não sou assim egoísta, gosto de dar coisas, gosto, isso me dá prazer. Simples assim. Ser algo que não sou, sim, seria sacrifício, falta de auto-estima. Por que as pessoas buscam em mim algo que não está lá se eu sempre fui tão honesta quanto ao que sou? Não quero pessoas inalcançáveis, problemáticas, quero alguém que me ame como eu sou, apenas isso. Eu amo as pessoas do jeito que elas são, basta que eu sinta o recíproco.
Mas, se eu preciso de amor, porque eu me amo e não posso continuar me sentindo tão sem carinho, será que eu deveria me submeter a isso? E a uma vida de semi-amor, semi-carinho, semi-entrega, só pra ter qualquer coisa, nem que seja pela metade? Carinhos tão vazios... não sei se pior com ou sem eles. Semi-agressões.
De qualquer forma, ou é isso ou é nada, não tenho outra opção, tenho?
Quero tudo, menos nada. Vai ser difícil confiar, mas eu vou tentar qualquer coisa tirando força sei lá de que lugar...
É tão fácil pros outros começar com a ladainha que eu devo ser por mim mesma, que não posso depender de ninguém, etc. etc., que é só esperar passar e logo, logo, tirarei ótimas lições disso e ganharei a melhor nota de a pessoa astuta e madura.
Só que eu já passei por isso. Eu lembro exatamente no que isso dá. Acaba o meu amor e dá lugar a uma sensação de vazio e indiferença que me torna um zumbi ambulante, incapaz de retirar prazer de verdade das coisas, até o ponto de nada mais fazer sentido e nada mais ter importância alguma, aí sim, melhor a morte.
Se quiser ter certeza, volta alguns mil posts atrás, lá no accela. Eu sei e registrei bem registrado. Eu daria tudo, naquele tempo, só pra me sentir um pouco miserável como agora estou me sentindo. Como eu disse no começo do post: muito melhor sofrer por alguma coisa. Nunca mais aquela sensação doente de nada, de vazio, nihil, doentia, aflitiva, de enlouquecer mesmo. Acho que o que mais me apavora é isso. É vislumbrar que se nada que eu tentar desesperadamente como saída de emergência der certo, vou me sentir daquele jeito de novo.
Então, queridos se essa a opção tão “corajosa”, tão “auto-suficiente”, que vão me ofertar, enfiem no cu e rodem. Não me tratem como uma ingênua marinheira de primeira viagem. Meu cu pro primeiro que disser “logo, logo isso passa...”.
Prefiro morrer de dor a morrer de indiferença (porque aliás, de indiferença nem se morre, se anula).
Eu sofro tanto e as alternativas são tão ruins que eu até prefiro que não passe.

Estava lendo um texto no digestivo cultural, e vi uns trechos interessantes:

"...Ser feliz é viver na plenitude do momento que passa. É libertar-se de um passado já morto e de um futuro inexistente, pois a única coisa que existe é o momento presente..."
"....Ser feliz é ser forte na renúncia. Mas a renúncia não deve ser apenas ma palavra, expressão de um conhecimento intelectual, ou teórico. A renúncia deve ser uma realidade que tem de ser experimentada. Renúncia é sinônimo de libertação..."
"...Ser feliz é não se apegar coisa alguma deste mundo. Todo apego cria germe de futuro sofrimento..."
"...Ser feliz é estar livre de todos os desejos. Se me sinto feliz no momento de satisfazer um desejo que me surge na mente, é porque naquele exato momento eu fico sem desejo. Porém, logo em seguida, a felicidade desaparece, porque surgem outros desejos em minha mente. E assim sucessivamente... Por maior que seja a minha capacidade de satisfazer os meus desejos, estes serão sempre superiores à capacidade de satisfazê-los..."
(Trechos da obra "Budismo: Psicologia do Autoconhecimento" de Georges da Silva e Rita Homenko)

A bosta é que a linha entre isso e o limbo do nada que eu vivia antes é muito tênue. Acho que inclusive, eu não sei divisar muito bem, ou pra mim as dicas não deram certo. Não me apegar ou renunciar não me faziam feliz mesmo. De qualquer forma eu gostei da parte de se livrar dos desejos, acho que eu já tinha pensado nisso antes... e os franciscanos, e os hippies...

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