Enfim, voltando para o que eu dizia. O fatalismo sempre esteve aí, embora antigamente as coisas fossem melhores. Sendo assim, o fatalismo está errado e as coisas antigamente NÃO ERAM MELHORES. Nem piores, diferentes (clichê, clichê...). E nem acredito nessa coisa de "instituições falidas". Todo mundo adora usar a frase pronta e praticamente unânime entre os "intelectuais" de que casamento é uma "instituição falida", por assim dizer. Dizem o mesmo das escolas. Acontece que vamos ser um pouco mineiros, librianos, monges tibetanos, sei lá, e pensemos com mais moderação: talvez para alguns essas coisas sejam instituições falidas. Ainda mais em uma época em que tudo é estilizado, cada um tem um serviço personalizado, tem gente pra quem casamento e escola não serve – ohmeudeus, medo do nosso futuro?! Ok, Marquês de Sade também era meio contra várias coisas da sociedade, era um em um milhão, desculpa. O fato é que o povo generaliza. Tem gente pra quem casamento não serve – então não casa! – e tem gente pra quem, pelo menos a educação tradicional não serve – então não estuda? Uai, vai pra uma escola personalizada. Não precisa demolir uma escola, nem proibir os casamentos, entendem?
Mas sejam casamentos, escolas, ou o que for, o problema não é uma falência de instituição. É o mal do nosso século. A gente reviu vários conceitos, jogou-os fora e... esqueceu de substituir por novos! (E é aqui que eu digo que eu vou falar o mesmo que muita gente já disse, com minhas palavras... eu sei que não é novidade, mas enfim, quer novidade vai ler notícia, não crônica de blog). Sob uma valorização do relativismo, acabamos nos tornando um pouco céticos, mas sem valores rígidos impostos pela sociedade como antes, acabamos virando, desculpem, muitas vezes mal-caráter. Gente, vocês sabem, eu sou anarquista de coração. E é justamente por isso que eu acho que os valores são as coisas mais caras a uma sociedade. Sem valores bem claros fica difícil a coisa funcionar, a gente tenta tapear com leis, impondo o medo, mas não funciona. Uma pessoa que não ultrapassa o sinal porque tem medo de levar multa, no momento que não for monitorada vai ultrapassar o sinal, ué. Uma pessoa que não ultrapassa o sinal porque entende que esse sistema serve para nos assegurar quanto a acidentes e organizar o trânsito dificilmente vai desrespeitar o sinal.
Estou dizendo isso porque acho justamente, como disse antes, que o que nos falta são os nossos novos valores. Mas valores sérios, não palavras bonitas, valores mesmo. Nada de "pode ser que sim, pode ser que não, depende...", valores bem definidos e claros: não dá pra ser assim porque isso e isso e isso.
A escola é um protótipo da nossa sociedade. (A escola defende o status quo porque é uma miniatura da sociedade ou é uma miniatura da sociedade por que defende o status quo?). O povo não obedece mais regras, a anarquia já está quase instaurada, viva \o/. O problema é que a anarquia não funciona – a não ser nos nossos sonhos mais queridos – sem valores bem definidos, como eu disse antes. E é complicada de manter quando valorizamos a diferença, como gostam de dizer (não é um valor, apesar de parecer, é só uma regra de etiqueta, reparem, na primeira oportunidade o povo estraçalha o diferente, não adianta...). Uma sociedade anárquica, pra funcionar, precisa de consenso. Consenso com diferenças é difícil. Consenso sem nenhum valor que nos motive É IMPOSSÍVEL. E não há valores muito claros, não há. O povo ainda não realizou que achar algo certo ou errado não é pecado, não é ingenuidade, é NECESSÁRIO. Assim como na nossa sociedade, a escola tenta contornar o caos com regras, leis ("se você não fizer isso não terá aquilo"), chantagens. Mas leis – e é por isso que sou anárquica, essa é minha opinião – leis não funcionam de verdade... funcionariam até melhor em outra época (oh, saudosismo! – não.). Funcionariam se ainda existisse uma reverência a autoridade quase religiosa, como havia antigamente. Funcionariam se autoridade e autoritarismo não tivessem se tornado quase sinônimos, como se tornou na nossa sociedade. Mas, chega, não adianta tentar treinar o povo por meio do behaviorismo, ensinando todos a salivarem quando toca a sineta, o povo tem que entender melhor o que é comer, o que é sentir fome de verdade. "Se você não fizer isso não te dou um playstation". Não, chega! Explique que se fulano não fizer X, provavelmente Y não será possível, simples efeito dessa causa, não precisa inventar sinônimos a curto prazo – outro problema, talvez devido ao imediatismo e a rapidez da nossa sociedade, a longo prazo é meio complicado de entender pra algumas pessoas... Não, tudo bem, eu entendo os castigos, não to dizendo pra não fazer. Mas esquecer o que é mais importante – os valores, a vida real, os porquês, essa é a falha.
Agora... como pôr valores na cabeça desse povo? Talvez com o tempo. Ou talvez o povo volte à idade média com uma dessas religiões xiitas que estão tão em voga. Só sei que eu tenho os meus valores e tento transmiti-los, milagre não faço. E, de qualquer forma, sempre haverá um problema numa época. Pode parecer terrível, mas um dia ainda darão hoje como referência de "melhor" para um futuro distante.
Estamos perdidos...
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