É estranha a situação de ter um marido 9 anos mais velho que eu, com amigos 9, 10, 20 anos mais velhos que eu. Isso me lembra minha mãe me aconselhando a "arranjar alguém da minha idade", baseada no fato de que meu pai era 20 anos mais velho que ela.
No, fim, às vezes penso que ela tem razão quanto aos argumentos dela. Não é nem uma questão de maturidade, como você pode pensar. Já escrevi aqui que esse troço de maturidade é quase inexistente. Acho que imaturidade é mais uma coisa de... educação, não sei, do que de idade. Tem mais a ver com equilíbrio emocional. Você pode ter 50 anos e ainda ser infantil e pode ter 15 e ser uma pessoa madura.
O que muda é sua perspectiva de vida, seus desejos. Quanto mais velho você é, mais paciente você é. Você pensa: "grande novidade!" Mas digo aqui paciente num sentido bem amplo... como posso explicar? Uma paciência que permeia os detalhes mais bobos, toda a fruição da vida. Tudo é calmo e detido, mais morno. Já os mais novos são mais inflamados. Acho que essa é a maior diferença.
E ao mesmo tempo que tenho esses amigos muito mais velhos que eu, muito mais estudados que eu, tenho amigos da minha idade e tenho amigos de 15, 16 anos. E te digo, novamente, que pelo menos no contato que tive com eles... todos eram maduros igualmente pra mim.
E essas relações, todas, são muito prazerosas... e produtivas pra mim. Sou do tipo que o contato social no nível da comunicação é algo de extremo valor, é como eu aprendo e como gosto de aprender: ouvindo e falando, um compartilhamento de conhecimentos, visões e experiências.
A verdade é que os novos estão em contato com as novidades, muito mais que os mais velhos. Eles te ajudam a não parar no tempo, o que eu acho extremamente valioso. Tanta coisa nova pra ver e aprender e eu vou ficar sem saber, detida apenas nos prazeres conhecidos e velhos?
Além do que, os mais novos têm a criança interior muito menos sufocada. Com eles posso morrer por um adesivo da Cinderela, um sapato com desenho de gatinho, um colar de comidinha, brincar da forma mais boba... O que é mais divertido que qualquer bar com bebidas e conversa séria ou dança, que com o tempo vai me deprimindo porque... não sei, não é lúdico o suficiente pra mim. Só essas bobeiras me fazem comer chocolate e esquecer que existe metafísica no mundo.
Mas, ao mesmo tempo, a conversa séria dá o prazer intelectual. Assim como ler, porque a futilidade completa esgota também. Compartilhar opiniões, refletir, é o que faz sua vida ter um mínimo de sentido que vai além do puro hedonismo – sentido questionável, mas sem pensar muito a fundo, um sentido. Mais válido que o vazio hedonista... vai ver por moralidade, mas o que importa qual é o fim? O importante é que não é só seriedade, inclui prazer, inclui vida também.
Mas voltando ao início do texto, a única coisa que me incomoda nessa relação de voluntária no asilo de velhinhos – e o que não me incomoda na minha relação de puro agito e curtição com a garotada, em que rola altas confusões... – é que eles podem me ver com algum preconceito. Não que eu MORRA por isso, preste atenção. Se eu morresse por isso me vestia de intelectual séria e amarraria a cara pra fazer um tipo. Mas, não, quanto a isso eu tenho muita certeza da minha identidade, seja aqui, seja acolá, eu sou a mesma. Posso soar metida intelectual pros mais novos, assim como posso soar uma adolescente bobinha pros mais velhos. Mas é que me incomoda muito mais, é claro – afinal sou exibida, todo mundo sabe disso xD –, parecer uma adolescente bobinha.
Meu medo é que esse ponto de vista acabe contagiando o Eros com o tempo, sabe? Sei que ele não é ingênuo, sei disso. Ele vai dizer aqui que é muito claro isso de que não sou uma boboca. Mas eu conheço relações interpessoais muito bem e sei bem como pequenos conceitos vão deixando marcas. Imagine, ele um professor de faculdade, lidando com as biscas cults o dia todo, chega em casa e me vê usando carimbinhos da Hello Kitty na prova dos meus alunos da 5a série... As comparações surgem e ele vai dizer: quero alguém mais madura, alguém como eu... Mesmo que ele ria que nem bobo pra mim agora quando faz besteira, assim como um menino de 13 anos. Um dia talvez ele ache que amadureceu e eu fiquei pra trás. Um dia o menino de 13 anos morre por excesso de academicismo e a minha menina de 13 anos não, porque não tenho previsão de conviver só com adultos, mas ele sim. Aí minha menina de 13 anos, coitadinha, vai ficar sem o amiguinho dela pra andar de patins.
Mas eu já prevejo aqui o argumento do Eros: assim como eu, ele tem uma identidade muito formada, seja aqui, seja acolá e ele não vai mudar só porque está em contato com essa esfera. Só que por mais que a gente tenha identidade formada, nossos convívios nos transformam, eu não disse que não. Eu era muito mais, muito mais séria e pouco lúdica há pouco tempo atrás. Aliás, foram essas amigas que me levaram de volta para o lado colorido da força (ok, elas e o antidepressivo). Quem acompanha minha filosofia crônica deve ter notado, por exemplo, que estou muito menos amarga, muito mudada. Mas ainda sou eu, certo? Quer dizer, eu ainda me reconheço, o que mudou é que saiu o Schopenhauer encarnado em mim... e entrou a Eliana dos dedinhos. Que no âmbito intelectual, talvez tenha causado certo déficit em algumas partes, mas no resto – e no principal – faz minha vida ser muito mais prazerosa.
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