Eu nunca assisti o tal do CQC – sim, eu juro, eu cheguei a ver um vídeo no youtube, mas não me interessou nem me fez rir, apesar de todos os elogios que ouço sobre o programa. Sabe aquelas matérias interessantes do Fantástico que você se diz: "peraí, isso aí é de um post do blog tal!"? Pois é, é o mesmo que pensei do CQC. Portanto, desliguem a tv e vão ler computador.
Agora, se CQC é bom ou ruim, não vem ao caso, nem vou argumentar, acho inútil argumentar sobre gosto, gosto se confunde muito com dogma e fé e vai entender estética – juro que queria entender a filosofia por trás da estética, mas Eros não me esclareceu o tanto quanto eu gostaria (talvez eu devesse desligar o Eros e ir ler um livro...). Mas o post não será sobre isso.
Estava vendo um post do twitter da Rubia quando descobri que o CQC está procurando um novo integrante. Aí logo surgiu na minha cabeça um comentário do tipo: "por que eles não contratam uma gostosa tipo Sabrina Sato ou Mulher Samambaia como 8o integrante? ". Daí fiquei pensando o quão degradante é um humor (ou qualquer programa) que usa gostosas pra reunir pontos de ibope, disso passei pra seguinte questão: "Toda censura é burra? No humor vale tudo?", só pelo caso de se pensar se seria moral ou não boicotar ou criticar esse tipo de atitude dos programas (e agora vocês sabem porque casei com um filósofo).
Antes de pular para a resposta, toda essa reflexão foi de segundos, sobre apenas um post de twitter, enquanto eu lavava pratos e colocava fita crepe nos cantos da parede, ou seja, eu costumo devanear filosoficamente sobre tudo e qualquer coisa, quem conhece meu blog pessoal, sabe disso. Quem conhece eu da comunidade de cabelos coloridos deve achar que estou pensando assim por causa do Eros e – sim, isso é uma justificativa, porque meus pensamentos tem copyrights só meus (apesar do interacionismo/behaviorismo ou qualquer outra coisa que você possa levar em conta nessa afirmação). E eu escolhi o Eros já por ser filósofo, não por ter cabelos macios e cacheados.
Mas voltando para a questão e todo o resto, eu lembrei de um texto (agora não me lembro qual) que falava do absurdo de qualquer censura, ainda mais se tratando de livros (como no caso dos livros adotados para as crianças que tinham – ohmeudeusdocéu! – palavreados e sexo (os livros tinham, não as crianças, você me entendeu)). E eu sempre ou quase sempre apoiei essa ideia: censura é algo extremamente idiota.
Mas, seja como for, ser totalitário nessa ideia é bastante complicado. Pense comigo: censura é algo idiota. Então eu devo aceitar que livros/novelas/filmes de teor altamente erótico sejam passados livremente pra crianças de 0 ano de idade a idosos de 100. Até aí, por mim, completamente ok. Mas se formos mais longe um pouco, censurar alguém por uma atitude imoral, seria besta. Ou censura tem dois sentidos nesse caso? Então, digamos, um cara mata um poodle toy de pancadas por diversão (fato verídico), seria idiota censurar isso? Pois é, pra mim censura não tem dois sentidos aí, tudo se trata de um mesmo sentido de censura: proibir. O problema é dividir o que é moral, do que é imoral. Portanto a questão é que a frase "qualquer tipo de censura é idiota" não é algo que eu aceite. Mas, por outro lado, talvez haja dois sentidos no censura sim, digamos: censurar atos é diferente de censurar ideias. Mas atos estão intrinsecamente ligados a ideias, ou não? Talvez não... eu posso escrever sobre sexo com crianças (ideia) ou posso filmar um filme pornográfico com crianças sendo bolinadas pela Xuxa (ação). Aí é que está, então reformulo a frase: "Censurar IDEIAS é idiota". Ou ideias podem partir pra ação? Ou ideias podem ferir? Entendem? É muito complicado! No meu caso, ideias não passam de ideias MESMO. E sim, milhares de mulheres podem achar muito excitante fantasiar que estão sendo estupradas (ideia), mas não gostariam NADA de ser realmente estupradas (ação), acredite.
Ou seja "Qualquer tipo de censura não é idiota, apenas as censuras que punem ideias". Porque não, ideias não ferem se não saem da sua cabeça. Sempre tem um imbecil que joga Doom e sai matando por aí, mas censurar Doom? Censurar o ato, não a ideia, a ideia em muitas cabeças não gera ação ("geração"), talvez na maioria.
Mas dentro disso, existe outro problema: as ideias que incitam os atos (a apologia), certo? Se eu falo: toda pessoa devia dar os peitos pra um gurizinho acariciar, porque é delicioso, isso é apologia. E a apologia deve ou não ser censurada? Aí conceituar o que é ou não é apologia seria dificultoso (é, de fato é).
O problema é que regras devem incluir todos, e sempre tem um merda que fode tudo. Democracia é um saco de conciliar com diversidade, concorda? A regra número 1 deveria ser apenas: "Não faça para o próximo o que não gostaria que fosse feito com você mesmo, ou melhor, o que esta pessoa não gosta que seja feito com ela (afinal você pode ser masoquista, isso não quer dizer que a outra pessoa também seja)". Isso simplifica um mooonte de leis – e também complica – afinal gostar é algo tão complexo, que nem quem entende de estética sabe explicar e... é, não existe moral que controle o mundo todo.
Agora, o rumo do meu post tomou todo outro, porque eu queria falar também de humor (mas bom, humor é ideia, e dificilmente apologia). Digamos que eu faça piada sobre crimes sexuais com crianças (estou usando o mesmo tema pra facilitar a comparação e porque é um tabu fácil de causar ódio, exceto para os padres católicos /sandy). Eu acho que falar brincando é MUITO menos perigoso ainda do que falar a sério, porque ninguém (normal) é influenciado por algo que está sendo ridicularizado ou patetizado (função do humor). Mas eis que depende muito do caso também. Ache absurdo ou não, eu acho MUITO mais aceitável fazer piada sobre crianças mancas, cegas, violentadas, esfomeadas, do que fazer piada em cima de uma gostosa. Porque o humor negro mexe com sua moral, mas não a tira do lugar, você pode muito bem rir da desgraça sua e alheia (geralmente pra amenizar o impacto e tornar a vida um pouco menos intragável, como é o meu caso), mas não compactuar com a existência dela. Porém dificilmente algo que é moralmente válido na nossa sociedade por caduquice – como é o caso da exploração da imagem das mulheres como mero objeto sexual –, vai ser refutado pelo humor, pelo contrário, vai ser só sedimentado. Algo que a moral já recusou (como o abuso sexual em crianças), não vai ser ressuscitado por uma brincadeira, mas algo que você nem sabe que é idiota, vai ser só vivificado enquanto você se masturba olhando a mulher samambaia (vai ver porque aí nem se está brincando com o fato, está sendo levado a sério e sustentando essa situação).
Vai ver que aí entra a diferença entre ficção e real, ideia e ato. Você brinca, você está no campo das ideias, da ficção, você fala a sério, é real, é próximo do ato. Mas nem tudo é apologia só porque é sério, pode ser crítica, por meio da ironia. E mais uma vez eu considero a brincadeira e a ironia saudáveis e não problemáticos. Mesmo (ou ainda mais, se quer saber!) o humor negro. O humor negro é uma pancada na sua cabeça que faz você questionar um valor tido como certo e inquestionável. Todo preconceito vem da falta de questionamento, pensa bem! Se você se questiona, você conhece o motivo do seu ódio ou paixão por determinado assunto. E quando você reconhece por meio mesmo do humor negro que comer criancinhas não é algo correto, você só reafirma sua posição e a reconhece, não a muda. Mesmo se seu humor é do tipo preconceituoso – sobre judeus ou negros, por exemplo. Sim, mesmo nesse caso cujo apoio ainda não foi extinguido por completo e ainda não é tabu, existe uma leve diferença, se seu humor é inteligente ou se é burro, se você está falando pra alguém inteligente ou pra alguém burro. Falar que negro é inferior de forma irônica, demonstrando que esse pensamento é ridículo, é MUITO BOM, falar isso de uma forma que sustente, não é. Mas depende, nem todo mundo entende a ironia, portanto... use com moderação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário