domingo, 16 de agosto de 2009

Um (não tão) feliz dia dos pais atrasado

Dia dos pais passou faz pouco tempo e eu esqueci de escrever sobre essa figura tão mítica da nossa sociedade: o pai.
Antes de mais nada, quando a gente fala de comportamento social é preciso lembrar que a gente generaliza um certo estereótipo, não quero dizer aqui que não existam pais excelentes, apenas que eu não conheço nenhum e os que eu conheço seguem bastante um padrão de comportamento. O mesmo se aplica aos homens em geral, exceto que eu conheço muitos que possuem um caráter,
Bom, voltando aos pais. Às vezes acho absurdo comemorar um dia dos pais. Esse personagem que pelo menos das pessoas da minha geração, os que conheço, não merecem ser chamados de pai, não mesmo. Existem aquelas exceções que amam seus filhos, que cuidam dos filhos enquanto a mulher trai e vai pra... sei lá, pro Amapá, mas como eu disse, são exceções.
Na verdade, a maioria dos pais tem no máximo uma relação de provedor dos filhos, quase como um patrão, digamos, ele tem essa obrigação de alimentar os filhos. Fim, acaba por aí a linda relação entre pais e filhos. E isso é sendo otimista e dizendo que o pai vai prover e alimentar seus filhos, a maioria nem isso. E o pior é que isso se repete, se trepete e ninguém se comove a ponto de dizer que é um absurdo, já se tornou rotineiro, algo comum da classe pai. Agora, uma mulher partir e deixar seus filhos pra trás... ah, aí sim causa pânico, aí sim é um absurdo, mas o contrário acontece nas melhores famílias, diariamente e as pessoas nem sequer notam mais.
Esse tipo de atitude paterna vem de toda uma cultura, senão não seria tão comum acontecer, certo?
Há na nossa cultura, depois dos românticos do século retrasado, é claro, uma obrigação dos homens não amarem. Algo como: amor é coisa de mulher. É, e não é novidade, quem não viu aí as famosas e engraçadíssimas (ha ha ha) camisetas em que o coração do homem se localiza no pinto e o da mulher... hum, no seu lugar certo? Ou o famoso livro "Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor", algo assim. Essa é a mensagem mais clara, mais descarada de toda uma mentalidade escrota (talvez, literalmente escrota) envolvendo o universo masculino: a de que o homem não ama.
E o que todas essas estampas promovem é a ideia de que... hum, homens sempre foram assim! Desconsiderando toda uma história em que nossa cultura já foi diferente, em que as mulheres sim eram falsas e faziam sexo e os homens procuravam um amor sincero. Ou que há a possibilidade de que em outras culturas ao redor do mundo isso seja diferente também. Mas não, o que dizem essas estampas e a mentalidade escrota masculina é que homem não amar é um fator biológico, praticamente, quase uma deficiência crônica, uma psicopatia, só que – o que é mais absurdo! –encarada como um grande troféu, como uma dádiva e uma qualidade do homem viril e másculo.
Pois é! Que mulher nunca falou ou ouviu de sua amiga (ou mesmo amigo) que os homens são mais infantis, amadurecem mais devagar que as mulheres? Será que é um fator puramente biológico ou só consequência da mentalidade escrota masculina? Pois eu acho consequência.
Na época das cavernas as mulheres cuidavam da "casa" e da prole (afinal tinham um físico mais fraco) enquanto os homens saíam pra caçar. Em decorrência disso, as mulheres aperfeiçoaram a comunicação enquanto os homens ficaram só nos músculos aperfeiçoaram as técnicas de caça e instrumentos e ciências na relação com o mundo. As mulheres adquiriram uma ciência na relação com as pessoas. Talvez daí um pouco dos motivos porque as mulheres ficaram famosas por cuidar da casa e serem afetuosas, enquanto os homens ficaram famosos por trabalhar, prover e aperfeiçoarem as técnicas e serem responsáveis por criar a ciência humana no que diz respeito a... sei lá, criar um binóculo, enquanto as mulheres criavam receitas. Só que de lá até hoje muita, MUUUUUUUUUUUUUUITA água correu e nós mulheres, graças as invenções que os próprios homens criaram, pudemos ficar em pé de igualdade – afinal músculos não eram mais estritamente necessários para sair e caçar – e pudemos ampliar nosso universo e sair por aí buscando outras alternativas de vida, além da casa e dos filhos. Enquanto isso, os homens... continuaram NA MESMA??? Não procuraram ampliar seu universo afetivo? Que pelo menos na minha opinião é o que faz a vida valer a pena??
Seja como for, em passos menores, os homens (eu espero) na atualidade estão começando a se interessar pelas atividades "femininas" e conhecendo o que é uma relação interpessoal de verdade. Enquanto isso acontece aos poucos, os pais antigos ainda são os velhos homens das cavernas... com a diferença que não caçam e muitas vezes não provem. Afinal, que relação é a relação de prover? Uma mera obrigação, se não tem o mínimo de amor e afeto envolvidos. É por isso que muitos pais fogem dessa obrigação, porque é, afinal, obrigação e não um desejo de cuidar dos filhos, o que aconteceria se fosse por amor.
No telejornal local daqui, teve uma matéria sobre os pais no dia dos pais. Um deles cuidava da filha enquanto a mulher tinha ido pra conchinchina trabalhar. Na matéria colocaram a "tocante" cena do pai penteando o cabelo da filha (na cozinha, urgh!, diga-se de passagem)... e ele penteava o cabelo da filha com a mesma aptidão que um macaco toca violino. PORRA! Pentear um cabelo é tão difícil?? A menina tava parecendo o Capitão Caverna com aquelas escovadas! Nessas horas me dá um nojinho do sexo masculino! Como eles podem ser tão inábeis?? Depois de anos cuidando da filha não saber passar um pente num cabelo? Ah vá pra pqp! Isso eu chamo de má vontade. Homens têm má vontade com o que não se refere ao universo masculino. Eles tem preguiça de tentar. E é preguiça de aprender que torna alguém inferior a alguém inteligente.
As mulheres foram abeis o suficiente pra adentrar o universo masculino, eles não se esforçam pra fazer o caminho inverso.
Claro, não é culpa exclusiva dos homens... é a própria imagem negativa que circunda o universo feminino que torna ele uma coisa desnecessária de se tentar. Nós mulheres também temos a obrigação de valorizar nosso universo, de mostrar seus atrativos.
Me dá pena ver que cada vez mais mulheres acham mais inteligente ser como os homens e pensar só em sexo selvagem (que como o próprio nome já diz é puro instinto animal sem sentido), do que valorizar um estilo de vida que valoriza o amor e o afeto. Não quero ser moralista de dizer que sexo sem compromisso não deve ser feito. Cada um é cada um! Só quero dizer que não devíamos ter vergonha de ter amor, de ter carinho. Isso não é algo que devemos lutar contra, pelo contrário. Um mundo baseado no amor seria MUITO melhor, todo mundo sabe disso.
Acho ilustrativa também as brincadeiras das crianças. A maioria das meninas ainda brincam de boneca, de dar carinho, de cuidar delas e de alimentá-las. A maioria dos meninos têm bonecos pra brincar de se estapear, de brigar, de guerrear. É como um reflexo do tempo das cavernas que não quer nos deixar...

Nenhum comentário: