Quarta-feira passada eu tinha uma consulta com psicólogo marcada e acabei faltando porque não consegui achar o consultório. A frustração foi grande, como da primeira vez que eu fui no psiquiatra e perdi o endereço em casa, chorei, fiquei nervosa. Afinal são mais de 10 anos de depressão insuportável e eu já não vejo mais a hora de me livrar disso – se é que um dia, viva, eu irei me livrar.
Eu já tinha listado em pensamento os principais motivos que me levam a ir me consultar e ia buscar uma resposta – e queria muito saber a resposta! – mesmo sabendo que psicólogos nos ajudam apenas a nós mesmo nos ajudar, não importa onde eu achasse uma resposta, eu queria uma resposta.
Eu tenho apenas dois motivos que me levam ao psicólogo. Parece pouco, mas você verá que não é, são fundamentais pra vida de qualquer um.
1 – Inércia. Eu já escrevi aqui ou algures (ai, que chique) sobre isso, e eu sei que faz muito, muito tempo. É da época que eu fazia cursinho pra faculdade ainda! Hoje já estou formada... e o problema se mantém intacto.
O problema da inércia é tal qual Newton o físico descreveu: um corpo parado permanece parado, se não houver uma força atuando. Mas, se houver uma força atuando, o corpo se move, sob uma aceleração constante,,, mas só se não houver uma força de atrito (o que fará o corpo perder aceleração até parar novamente). Bom, o que isso tem a ver comigo? Você pode imaginar. Sou do tipo que não tem praticamente força nenhuma interna atuando. O que existem são forças externas (me mexo por causa de uma obrigação inadiável, geralmente). Se estou parada, continuo parada até que por motivo de força maior eu acabe me movendo. Se há uma obrigação, no caso, um emprego, por exemplo, então eu me movo. E quanto maior a força, mais me movimento e continuo a me mover, porém a força de atrito acaba me forçando a parar cedo ou tarde.
Exemplificando? Bom, agora estou desempregada e, como sempre, eu vou ficando cada vez mais e mais preguiçosa e acomodada nessa situação. De repente durmo 16h por dia, tenho preguiça de tomar banho, de buscar água na geladeira, fazer um telefonema, enfim, tenho preguiça pra qualquer coisa! Mas, digamos, se eu acho um emprego. No início a força da empolgação me move e com isso eu fico atuante, chego em casa e até procuro coisas pra fazer e mantenho nessa movimentação a não ser... bom, a não ser quando a empolgação inicial da força vai acabando. Aí é terrível porque, embora não pareça, sou EXTREMAMENTE responsável e ver que estou procrastinando, ou seja, deixando de fazer um dever ou faltando com alguma obrigação, isso me deixa sentindo uma culpa terrível que me faz quase sempre procurar o suicídio e tem como resultado alguma doença física, geralmente meu estômago fica ruim, meu rim, e de repente eu falto, no dia seguinte vou chorando pro trabalho, até que a força se esvai e eu me extenuo por completo.
Dentro disso, me parece que eu vivo apenas por inércia mesmo. Seja no movimento, seja na estagnação. Hoje segurei pra não chorar enquanto minha ex-boadrasta contava pormenores de como conheceu uma vizinha e de que ia lá jogar baralho... Pronto. De repente uma bola na garganta se formou e eu fiquei pensando: eu não faria isso. Eu jamais teria força de, de repente, ir na vizinha jogar baralho. Parece simples e bobo, e por isso mesmo é terrível: eu não tenho força pra coisas ridículas e bobas como esta. Enquanto ela falava de ir viajar pra Pirenópolis, eu pensava: mas se eu for sábado eu terei que lavar o cabelo amanhã, "será que eu consigo lavar o cabelo amanhã?". Não porque eu não tenha tempo, mas porque eu não tenho força.
Claro, se tem que ir no médico e isso é inadiável eu vou. Se é uma viagem e o Eros vai comigo e isso pode ajudar eu vou. O problema geralmente são coisas bobas, que ninguém vai me cobrar além de mim mesma, quase sempre insignificantes. Ou nem tanto assim. Tenho o fim de um livro que eu gostaria de publicar em dois pedaços de guardanapo e até agora eu não arranjei forças pra escrever (e estou escrevendo isso, talvez muito maior). Só de pensar em como farei pra publicar... E todo o resto.
Aí o que mais me desanima é saber que quando conto isso as pessoas geralmente tendem a dizer: "sai de casa", "toma um fôlego e levanta", sem saber que esse é justamente o problema e que não adianta! Muitas vezes eu faço um dia, no outro dia eu já não consigo. Às vezes, uma vez num mês a cada solstício, eu sinto uma força do além que me faz limpar toda a casa, fazer vários serviços e então por esse dia eu acho que estou curada e que tudo se resolveu, que só bastou levantar e fazer, mas no dia seguinte, lá estou eu prostrada de novo, mesmo que eu tente segurar o sorriso por 20 segundos como li que ajudava, mesmo que eu pense: hoje não irei me cobrar pra ver como me saio. Mesmo que eu tente de tudo. Gente, já são 10 anos ou mais assim, não é algo que passe por pura boa vontade porque, sinceramente, vontade de sair disso é o que não me falta.
O que eu acho mesmo é que no fundo eu sinto a necessidade de alguém pedir pra mim que eu faça. Ou nem isso, que isso também me angustia. Me falta mesmo é desejo, é querer. Eu não faço as coisas porque quero, mas porque devo, não sinto desejo de nada, mesmo do que gosto, é difícil manter um desejo aceso.
2 – Sentido. Um sentido pra vida. Sou ateia e até tenho pensado em virar espírita, alguma coisa assim. Achar que tem um sentido viver, que tem algum sentido ao menos místico, porque racional, realmente, cansei de buscar e não acho.
Todo mundo que eu conheço, por mais alegre que aparentemente seja, sempre diz que era melhor não estar vivo, que a existência é realmente uma sina ruim e dificilmente encontrei alguém que nunca tenha querido morrer. Ou que ache terrível ter filhos pelo mesmo motivo. Se existe alguém que não se encaixe nessa descrição, são raras exceções.
Quando penso nisso, penso que viver é uma simples acomodação. Viver pra que? Por hedonismo? Por algum prazer qualquer que seja? Por que irei dar aula se melhor seria que meus alunos nem tivessem nascido?
Não faz sentido.
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