quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Estar cercada de gente conhecida...

...Às vezes é angustiante, quando você não tem nada a oferecer de bom.
Às vezes é alienante pelo simples fato de você deixar de ser você pra ser um companheiro. Há muita diferença no ser você mesmo e ser um companheiro. Companheiros entretêm um ao outro, basicamente, às vezes me sinto num Big Brother, 24h na tv: "entertain us". Eu sou mais divertida quando me veem esporadicamente. BEM esporadicamente, eu quase nunca sou divertida – mas alguém é divertido sempre?
Esse é o elemento chave do defeito do casamento. É o defeito das famílias, é o defeito de qualquer compartilhar. Com a diferença de que na família ninguém mais se preocupa em ser caro um ao outro e todos podem se detestar e ignorar sem grandes crises.
Eu também sinto falta duma companhia constante porque sou carente, isso é fato. Compartilhar comida é fundamental! Compartilhar ideias sempre... Mas compartilhar minha angústia constante não há necessidade – porque já faz tempo que desabafar cura tão pouco que é quase nada...
Mas tudo tem um lado bom e ruim, né? Pelo menos é um clichê essa frase e eu acredito no poder dos clichês. Se não são repetidos porque são verdadeiros, se tornam verdadeiros de tão repetidos que são. Se você escolhe compartilhar alegria, vem de brinde a tristeza. O meu problema é que eu vivo triste, vivo angustiada.
Eu posso contar nos dedos quando eu fico alegre: momentos de distração. Numa conversa acalorada, num trabalho que exija concentração ou dedicação, enfim, num momento que eu esteja em segundo plano, esquecida de mim... Afinal eu sou um saco até pra mim mesma, entende? Sou uma dor constante no cu, como dizem os americanos. E se eu sou assim pra mim, eu imagino o quanto insuportável eu sou para os outros. Minha gata vê minha cara de basset round e se mantém distante, só se achega pra dormir, afinal eu devo ser sonífera, ainda mais para um gato – que às vezes eu realizo ter mais maturidade que eu. Tão indiferente que ela é, tão blasé que eu canto e danço com ela Água Perrier, o poema que eu mesma podia ter escrito pra ela.

ÁGUA PERRIER
Não quero mudar você
nem mostrar novos mundos
pois eu, meu amor, acho graça até mesmo em clichês.
Adoro esse olhar blasé
que não só já viu quase tudo
mas acha tudo tão déjà vu mesmo antes de ver.
Só proponho
alimentar seu tédio.
Para tanto, exponho
a minha admiração.
Você em troca cede o
seu olhar sem sonhos
à minha contemplação:
Adoro, sei lá por que,
esse olhar
meio escudo
que em vez de meu álcool forte pede água Perrier.

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