Eu não sei se vocês sabem, mas viver pra mim é uma tarefa muito difícil. O pior de tudo é que tenho a impressão de que não é fácil pra ninguém mesmo. Poliana vivia mais fácil, mesmo sem pernas e tudo o mais. Às vezes eu tenho essa impressão que pra viver mesmo alguma complicação tem que aparecer, por isso Poliana se dava bem no mundo. Não existe enredo se o mocinho pode ficar com a mocinha e se casar e ser feliz para sempre sem nenhum obstáculo, não é? Já pensaram nisso...? Quanto mais fácil é sua vida, mais difícil vivê-la. Nós pegamos nosso papel e perguntamos: ta, mas é só isso que acontece?
Eu me sinto constantemente assim, eu acho que vocês também. Já percebi que muita gente atua em cima da atuação que já é naturalmente ser vivo. Quer dizer, tem gente que, mesmo estando numa situação alegre, que o deixa alegre, faz uma atuação bem ruim sobre estar realmente muito alegre. É deprimente como... como isso acontece. Quer dizer, acho que essas pessoas estão realmente muito infelizes com o papel medíocre que pegaram e tentam construir algo em cima, mesmo às custas de se tornarem personagens extravagantes e mal encenados.
Eu não consigo ser assim, nem acho isso muito agradável de se ver. O que é um problema porque nem numa situação muito alegre, eu estando muito alegre, eu sei como reagir. Claro, reajo naturalmente. Mas, digamos, em situações não tão limítrofes assim é que o problema aparece. Eu me sinto desconectada do meu personagem e da peça. É isso.
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