segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Porcaria

Sou uma bosta
Nunca serei mais que uma bosta
À parte isso, não tenho coragem de dar descarga
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto, de um dos milhões do mundo que não serve pra nada
(e se servisse, de que adiantaria?)
Dais para uma rua fechada em que não passa quase ninguém,
Uma janela inacessível a não ser que se suba em um banquinho,
Real, realmente pequena e que não deixa entrar luz, só chuva
(Minha janela não diz nada porque é a janela inútil do quarto de uma inútil, pulemos essa parte)
Estou hoje triste e podre como em todos os dias
Estou hoje dividida entre a lealdade que devo
Aos outros e à vida que levo, como coisa real por fora,
E a sensação de que seria melhor se eu morresse, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósitos muito claros, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Só me tornou alguém ainda pior
Fui até Curitiba com grandes propósitos.
Mas lá só encontrei o frio e o Eros
O resto da gente era tudo igual às outras.
Saio da janela do Firefox, abro o Word. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas o que penso não é boa coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa... que cambada de inútil!
Uma imbecil? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem imbecis como eu,
E a história não marcará nenhum, obviamente.
Nem haverá senão estrume de nossas carcaças futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos as igrejas ou partidos há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho quase nenhuma certeza, sou mais certa ou menos certa?
Com certeza menos certa nas minhas certezas.
Em quantos apartamentos ou casas do mundo
Não estão nesta hora deprimidos chorando?
Quanta inutilidade –
Sim, somos verdadeiros inúteis,
Sempre serei aturada pelos outros que estão vivendo a vida deles?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que num jogo de videogame.
Tenho ficado sem fazer mais do que alguém em coma
Tenho imaginado mais formas de suicídio do que... nem sei.
Tenho feito cartinhas suicidas em segredo, que só uma pessoa recebeu
Mas sou, e talvez serei sempre, uma idiota,
Ainda que consiga mudar um pouco;
Serei sempre a que não nasceu pra isso;
Serei sempre só a que tinha defeitos;
Serei sempre a que esperou que lhe abrissem a mente sendo que não tem cérebro,
E deu opinião desnecessária no MSN
E acha que tem razão sendo uma tapada.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrama-me a Natureza sobre a cabeça oca
O seu sol, o seu sol, o sol que me desbota o cabelo,
E o resto seria bom que viesse, mas se tiver que vir, ou não venha mesmo.
Escravos da vida por estarmos vivos
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ficamos com preguiça,
Levantamo-nos e é se arrastando.
Não saímos de casa porque ela é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a nossa Via Láctea e o nosso Indefinido.
(Joga videogame, pequena;
Joga videogame!
Olha que não há mais nada importante no mundo senão uma partida de tênis do wii.
Pudesse eu fazer outra coisa com a mesma verdade com que jogo!
Mas eu penso e, ao pensar merda demais,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que sou
Esse monte de posts imbecis que posto
Pior post impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas
Porque eu mereço esse gesto em que atiro
A roupa suja que sou para o decurso das coisas,
E fico em casa sem sutiã.
(Escrever não me consola mais, só me faz me sentir mais idiota, fodam-se estes posts)
Como os que invocam espíritos invoco
A mim mesma, mas não gosto do que vejo.
Chego à janela do firefox e vejo as pessoas com uma nitidez absoluta.
Vejo os amigos do Eros, os meus colegas, os desconhecidos famosos,
Aqui vejo as gatas que também existem,
E tudo isso me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer a mim não o fiz.
Sou um engano
Conheceram-me logo por alguém melhor e não desmenti, e perdi-os.
Queria que essa máscara
Ficasse grudada na minha cara
Mas não, sou pior do que a porcaria que poderia fingir.
Até eu me engano...
Mas quando tirei a máscara e me vi ao espelho,
Eu vi o quanto eu era pior do que julgava.
E ninguém me tolerou porque eu sou ofensiva.
Eu vou escrever esta história pra provar que não presto pra nada.
Nem pra inventar uma poesia da minha própria lavra.
Não tem mais música, rimei onde não devia
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse – de bom,
E não ficasse defronte para o notebook defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Eros de repente me aparece
Olho-o com o desconforto de me sentir tão pequena e inferior
E com o desconforto da alma em que não me aceito
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará muitas coisas, eu não deixarei absolutamente nada.
A certa altura morrerá as coisas dele também, e a má-lembrança de mim também morrerá cedo,
A certa altura morrerá a língua das coisas do Eros,
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como o Eros e vivendo pra baixo como eu,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra
Sempre tudo tão estúpido, como eu.
Sempre... ou não.
Mas o Eros perguntou: O que você está fazendo?
E a minha imbecilidade pareceu muito mais clara pra mim
Aí suspiro e tenho vontade de sumir, convencida de que sou mesmo idiota.
E vou tentar continuar escrevendo estes versos que não sei pra que servem
Escrevo maquinalmente só pra admitir, pelo menos, que sei
E tentar saborear pelo menos a libertação dos meus pensamentos infelizes
Sigo o outro poema como uma rota própria,
E mesmo assim não gozo,
Por essa libertação tão vulgar
E a consciência de que essas impressões são consequência de estar mal disposta.
Não ajuda em nada, porque nunca estou disposta, já que sou um lixo
E continuo vivendo
Enquanto for tão difícil decidir o que é melhor, continuarei vivendo
(Se eu fosse uma pessoa diferente
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, me movo na cadeira. Abro a outra janela.
O pessoal do Twitter (escrevendo sobre como o carnaval é chato?).
Ah, conheço, é o pessoal bem-resolvido.
(Agora escrevem sobre o BBB)
Como por um instinto divino, um me manda um reply.
Disse algo, eu respondi algo e o Universo
Continuou na mesma, eu sendo um peso sem esperança, e ninguém sorriu.

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