segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Por uma pedagogia do sentido

Há muito julgamento quanto ao método, mas o que eu acho fundamental no ensino está longe de ser isso. Pessoas aprendem em vários momentos de sua vida: brincando, dançando, se sujando e estudando. Acho que a escola dá conta da parte “estudando”. Ok, nem sempre seremos os mocinhos, mas é a vida, escola é o lugar de se estudar. Educação é mais que isso. Mas escola é isso.
Eu acho que o pior problema que a escola enfrenta não é a posição das carteiras, nem a postura dos professores, e sim um problema de currículo. Cansei de pedagogia libertária, de professor se sentindo um tirano porque manda seus alunos se organizar. Oras, sociedade se faz assim, não gostou vá para as colinas... Mas com isso não quero dizer que acho que só apoio o tradicional, mas que as pessoas fogem muito do verdadeiro problema.
O que sinto como professora é que o pior problema em ensinar é a falta de sentido. A gente pode até viver sem um sentido, mas a gente se distrai pra não ter de encarar isso. O mesmo ocorre com a escola: ou faz sentido ou a gente se distrai. O que a gente aprende tem que ser significativo.
Eu fico puta com certos clichês que meus colegas de profissão adoram repetir, como: todos adoram Ed. Física e “nós somos uns monstros porque obrigamos os alunos a se sentarem enfileirados”. Eu mesma odiava Ed. Física. E mesmo que eu seja a exceção, convenhamos que, a parte os alunos hiperativos, coloque um jogo/filme/programa instigante na frente deles e veja se eles não ficam sentados sem problemas durante horas.
E por acaso se acha a cura do câncer por meio de dinâmicas? As pessoas discutem filosofia em meio a torneios de queimada cultural? Todo mundo tem de se concentrar pra entender na vida!
Tudo o que vejo ultimamente é alunos implorando por dinâmica. Toda merda de aula é a mesma coisa: devia ser mais dinâmica. Eu acho que eles querem é se distrair. Se aprender estivesse sendo interessante, não ia haver problemas em estar parado, em estar prestando atenção – prestar atenção seria uma resposta mais do que natural. Ninguém reclama de “ter de ficar sentado assistindo Harry Potter”. Não estou dizendo que às vezes não é bom sair um pouco do usual. Mas que, não, não se aprende com dinâmica, só se descansa. E aprender é um trabalho, não uma simples diversão.
O problema não é ficar sentado. O problema é o porquê ficamos sentados. O conhecimento perdeu o sentido e com isso não paramos sentados.
Aí mudam o currículo de português, ok. Não ensinamos mais gramática, ensinamos gêneros textuais. Mas logo estamos ensinando a destrinchar textos em busca de regras e semelhanças estruturais. Que diferença tem isso de estudar análise sintática? Não vejo muita! E não adianta reelaborar mil vezes o currículo, o maior problema é essa ideia de ensino grupal. Cansei de fazer prova em grupo, de preparar aula em grupo. No final aquele conteúdo se distanciou de mim, o objetivo do grupo não é o meu objetivo e – e me desculpe se sou individualista – o sentido é uma coisa muito individual.
Acho que o que devemos ensinar é uma coisa muito pessoal. Assim como aprendemos o que queremos aprender, no final das contas. Torço por um ensino mais individual, em que os professores encontrem o seu verdadeiro sentido, o que realmente ache relevante ensinar. E dentro disso o aluno vai aprender o que pra ele também é relevante. Sem isso vira mera reprodução.
Não ensinamos nem aprendemos o que os outros querem, mas o que nos motiva e o que nos causa paixão. E essa paixão é o que contagia.

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