Antes de mais nada, começo este texto me declarando feminista (e casada com um feminista – não um feministo) e que muitas das minhas idéias também aqui são fundamentadas em algo que minha profª de linguística (doutora em linguística com ênfase em semântica, para os que não me levam à sério) dizia nas aulas de análise do discurso
Outro dia uma pessoa preconceituosa achou que por eu não ler mais teoria acadêmica eu tinha preconceito linguístico (como se isso não se aprendesse até por osmose em qualquer curso de Letras). Pelo contrário, adoro os artigos publicados no site do profº Marcos Bagno, meu problema é com textos pouco claros e concisos (ou seja, a maioria dos textos acadêmicos). Pois então, eu não sou a favor do preconceito lingüístico, conheço muito bem a influência social na linguagem sim e não acho, como alguns professores, que se deva ter meia medida com preconceito linguístico ao ensinar norma culta.
Porém, entretanto, contudo... Eu não acredito no politicamente correto. Entendam: chamar pobre de “pessoa financeiramente desfavorecida” não vai pagar as contas dela, chamar sua empregada de “secretária do lar” não vai impedir que ela limpe sua privada, nem chamar a presidente de presidenta vai tornar o mundo mais feminista (mas talvez tornar possível elegê-la sim). Se a língua é um espelho da sociedade, então mudemos a sociedade que a língua por si só irá mudar (e não, nunca vai ocorrer o contrário!). Além do mais, se foram os próprios idealizadores do dicionário Aurélio que disseram que “presidenta” é uma mudança feminista da língua (como diz neste link), então, sinceramente, eles merecem o título de pais dos burros com total influência genética na formação cerebral dos filhos. Até Pasquale aceitou essa mudança lingüística (afinal foi dicionarizada). Mas eu NÃO, não aceito. Primeiro, presidenta soa tão horrível quando soaria “o presidento”. E, se soa mal, é porque é uma mudança a parto fórceps da língua (e não natural). Segundo, que mudaram um substantivo uniforme (com outras palavras: unissex, como estudante, por exemplo como todos os “ntes” da vida) para um substantivo variável (só que só para o gênero feminino). Se houve mudança, a mudança foi mais sexista do que era antes. Isso porque se se considera que em “presidente”, o sufixo é masculino, está no seu imaginário que tudo que é neutro é masculino, então você vê falo até onde não tem e você de alguma forma considera sim o macho mais representativo sempre.
E por último eu não acredito nos @ da vida, não acredito em tornar a língua neutra (e impronunciável, porque eu não sei como ler em voz alta senhor@s, você sabe?). A língua não é neutra e, convenhamos, nem é tão sexista quanto a gente imagina. Pois não era pra haver muito mais pianistas homens que mulheres, ou musicistas são só viadinhos? Poeta pra mim nem dá impressão de palavra essencialmente masculina (ainda mais que termina com a) e quem ainda fala poetisa pra mim é meio pré-histórico. Se nossa língua denunciasse tais machismos só haveria cabeleireiras e bailarinas, não? A mudança de gêneros na nossa língua é muito mais convencional, na minha opinião, do que realmente retrato de machismo. Tanto é que seres inanimados podem ser masculinos ou femininos à revelia.
Concordo que a gente usa o masculino como genérico. Homens, no lugar de humanos. Mas então pessoa, que sempre existiu, seria uma palavra, sei lá, de vanguarda feminista?
E, ademais, eu como mulher feminista, to é pouco me lixando se me chamam de professora ou professor, ou o caralho a 4. Me importo se estão me pagando o mesmo que os outros, se estão permitindo que eu tenha uma jornada de trabalho igual, se estão me considerando tão importante na criação dos meus filhos quanto o meu marido, se estão me considerando independente, se não ligam pra que eu fale palavrão ou que beba cerveja ou fume ou abra as pernas e ria alto ou envelheça, se estão me tratando igual objeto ou não, se conseguem me ver como ser igualmente inteligente (e não inteligenta), embora me maquie e me depile, ou não. Assim como sua secretária do lar deve estar pouco se lixando pro seu tabuzinho interior de chamá-la ou não de empregada, ela quer é receber e ser tratada com dignidade e ter 13º.
Em outras palavras, se você não quer ser pequeno-burguês, lave e passe suas próprias roupas, doe todo seu dinheiro para o MST e vá cortar cana. E se você não quer ser machista simplesmente trate as mulheres com igualdade. Todas as demais medidas pra mim soam puro eufemismo, disfarce, purpurinagem de intelectual entediado e hipocrisia.
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