Muitas das pessoas apaixonadas que conheço – principalmente as que se apaixonam pela pessoa errada – costumam levar como axioma o fato de que o amor é algo que não se escolhe, simplesmente aparece de repente. E este texto eu escrevo para contestar isso.
Você pode então afirmar que o amor é um sentimento e que, como tal, não é controlável, mas eu não acho. Amor, assim como ódio, pode ser controlável e, se nasce é porque há embriões envolvidos e esses embriões, por responsabilidade sua, foram fecundados.
Não acredito em amor à primeira vista, assim como não acredito em ódio à primeira vista. Por outro lado, existe atração à primeira vista assim como existe repulsa à primeira vista. Mas, em ambos os casos, pode haver prova em contrário sempre. E, o mais importante: você pode deixar desenrolar ou simplesmente cortar desde o início, como ervas daninhas.
Uma colega dizia se apaixonar sempre por caras brutos, que a traíam e que não davam a mínima. Seria carma ou há um padrão envolvido? Principalmente porque o carma se repetia com a mãe... Hummm... Um pouco de ceticismo e leitura de Freud é sempre bom nesses casos.
Me irrita muito ver com que frequência estonteante (e assustadora) homens largam a mulher de 50 pra trocar por duas de 20 e uma de 10 porque “se apaixonou”. Como se mulheres fossem objetos que, assim que desgastados e antigos, precisassem ser trocados. E isso pode acontecer comigo um dia e, desde já, eu não aceito. E não aceito isso também pela pressão que isso acaba trazendo para o mundo feminino de que precisamos ser perfeitas e novas para sempre. Em outras palavras, eu acho esse tipo de atitude muito mais que falta de noção, acho machismo puro e simples e que precisa ser combatido como todas as outras formas de machismo.
Também outro machismo é aceitar caras que te espancam por “amor”. Simplesmente me apaixonei pelo cara bêbado que bate em mim e meus filhos. Não, não dá!
Ou ainda, o velho “Te traí porque me apaixonei pela minha secretária.”
As pessoas que partem pra esse caminho ou gostam de drama ou acabam acreditando nos romances e novelas da TV, em que o amor é sempre como um vírus que se apanha do nada, ao cruzar os olhares com uma gatinha ao derrubar os seus livros no chão, ao salvar uma donzela em apuros – ou ser resgatada.
É preciso saber separar amor de impulso sexual. E é preciso entender que impulso sexual é tão passível de se controlar quanto xixi, a não ser que você tenha incontinência urinária (sem a metáfora: você corre sérios riscos de virar estuprador, trate-se).
Sou casada e concordamos de não ter um relacionamento aberto (e de antemão, mais uma vez: nada contra aos abertos e o que virá a seguir não se aplica a estes). Logo, se em algum momento um homem me atraísse, a coisa mais sensata a fazer no meu caso seria simplesmente não ser íntima dessa pessoa. Não que eu esteja abrindo mão de, sei lá, descobrir de repente que outro é meu verdadeiro amor (outra ingenuidade também acreditar que há um verdadeiro amor). Eu prefiro achar que estou cultivando um amor duradouro e feliz e que, se eu dispensasse por outros amores e assim sucessivamente, eu estaria me privando de ter ao lado além de o melhor sexo, o melhor amigo, o melhor companheiro, que me conhece melhor do que ninguém (e deixaria de aprender a aceitar os defeitos, outra fator muito importante, matéria para outro post).
Sou adepta da filosofia dos gatos. Dependendo do seu cheiro, um gato pode até se atrair por você, mas vá tratar mal um gato! Ou até menos: vá ser indiferente a um gato! Pode acreditar que o gato vai te virar as costas rapidinho. Ao contrário dos cachorros, que vão babar você inteirinho não importa quantas chineladas e voadoras você der nele, gato sabe se preservar. Mas vá ver na literatura, ou na TV o que eles falam dos gatos: gatos não amam, e sim cachorros. Pelo contrário, gatos é que sabem verdadeiramente amar. E a gente devia aprender com eles. Amor é algo que se constrói com carinho e respeito e não com qualquer batida de coração mais forte que um pinto grande te causar. Porque aí você se encontra vulnerável ao amor, ou melhor, paixonites porque eu me recuso a chamar isso de amor. E vulnerabilidade nunca é bom, nunca é lindo de morrer, nem quando se trata de amor.
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