domingo, 30 de outubro de 2011

"Compartilho logo existo"

   Piaget diz que a gente só vai aprender quando se desacomoda mentalmente. Que é quando algo nos tira do sossego, quando as perguntas não têm mais resposta, que a gente vai buscar respostas até voltar ao equilíbrio, dessa vez mais adiante um pouco. Eu não discordo. Pelo menos é quando me desacomodo que escrevo, que reflito e que penso até ir mais adiante, como agora. Mas isso os filósofos já sabiam, que filosofia é estranhamento.
   Já Vygotsky dizia que aprender é um ato social, a linguagem em si é social, e como discordar a partir do momento que minha linguagem é instrumento de comunicação e comunicação exige um outro (nem que esse outro seja eu mesma)? Essa ideia da linguagem social também é velha, e tem seus filósofos mais velhos que Vygotsky.
   No entanto, apesar de tudo isso, as pessoas veem com muito bons olhos a introspecção, como se esta fosse a forma mais alta de atingir a sabedoria. Claro que conhecer exige mecanismos de introspecção, mas não existe introspecção sem linguagem, sem esse outro. A própria literatura é essa forma de introspecção que dialoga, você está só ou está acompanhado, afinal? Você diz e imagina um interlocutor, há sempre um interlocutor. O que quero questionar é: o que é a introspecção? O que a difere de um diálogo (se é que existe monólogo) propriamente dito? Não é possível fazer num diálogo o que faço agora: pensar? Talvez seja uma questão de tempo para pensar. Mas quanto tempo você precisa pra pensar? Será que o mundo da comunicação e da informação em que vivemos não modificou nosso tempo? Será que precisamos do mesmo tempo de antes? Será que pressa, nesse caso, seja mesmo inimiga da perfeição e quantidade diferente de qualidade?
   Acho que não. Quero ser otimista e pensar que é possível que nos adequemos a bater recordes de pensamento como maratonistas, e que se pensamos mais rápido e obtemos informações muito mais rápido isso só pode é ser um passo adiante. E que aprender o mais que posso é o melhor que posso fazer durante um período de vida tão curto.
   Outro dia meu professor de Ética dizia: vocês conseguem se imaginar num mosteiro? Fiquei pensando seriamente nisso. Não, hoje em dia é muito difícil imaginar gente que busque conhecimento por retirar-se do mundo. Não, não que não exista, mas imagino as outras pessoas como eu, “reféns” dos meios de comunicação, das redes sociais, indo pra um retiro e para um isolamento se autoconhecer... Não, eu me autoconheço de outra forma, é na relação com o outro que eu me conheço, quem sou eu sem o outro? Existe esse eu isolado? Existe um eu que não esteja composto de vozes externas, de todo tipo de contribuição com o meio? Falo de conhecimento, não falo de paz. Isolar-se para atingir a paz é possível, mas conhecer? E mesmo a paz individual para mim é pouco, não sou miss universo, mas eu quero muito mais que uma paz individual e pessoal, de que vale eu sozinha tendo paz? Como posso estar em paz e conforto sabendo que há outros que não a tem? Me parece um projeto de vida egoísta: isolar-se para conhecer-se e encontrar a paz. Pra mim tudo é diálogo, se eu sair do mundo e encontrar a paz, será depois pra ajudar os outros e trazer alguma contribuição que vá além de mim. Por que ficar só em mim se vou morrer? Você pode me dizer que morre-se de qualquer forma, mas não sou hedonista, acredito que não irei morrer se deixar algo de mim no mundo, nos outros e assim por diante, como átomos de ideias, de pensamentos que não morrem. Essa é a única alma que uma ateia pode ter.
   E a paz pelo silêncio... por que não encontrar a paz na multidão de vozes? Elas podem ser de alguma forma belas. O silêncio e a solidão eu terei por toda a eternidade quando morrer, por enquanto eu prefiro viver, e viver intensamente, da minha forma, que é discutindo e me relacionando.

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