quinta-feira, 5 de abril de 2012

A onda

   Muito tempo sem escrever. E não é porque não quisesse. É porque nunca sabia quando ou como recomeçar, como enfrentar a inércia (a inseparável inércia!) e dizer: ok, agora eu tenho algo para dizer e isso não é um mero status de facebook, nem uma lamentação solta, isso é algo que eu preciso dizer como se eu realmente fosse uma pessoa que tivesse algo pra dizer.
   Como vocês sabem – ou ao contrário do que disse há alguns posts atrás –, eu desisti do “sonho de ser escritora” como muitos garotos desistem de ser jogadores de futebol quando chegam aos 15 anos de idade. E dentro disso vem junto, é claro, o sentimento de que eu era uma ingênua perna de pau. Então o que eu tenho pra dizer? A quem iria isso importar? Qual a relevância? Não sei, mas eu precisava escrever em algum lugar além de dentro da minha própria cabeça.
   Devo dizer que estou confusa. Que me sinto uma daquelas pessoas que perdem a memória de duas em duas semanas e voltam ao estado e a concepção de mundo de duas semanas atrás. E o grave é que essa doença parece vir desde, quem sabe, minhas duas primeiras semanas de vida. Não tem grande ensinamento, epifania, descoberta ou bem estar que dure sem que de repente eu seja repelida lá para trás de novo, como ao quebrar e ao formar de uma nova onda. É possível que essa imagem eu já tenha citado em textos atrás, porque eu sempre falo e volto a esse sentimento também, eu sei. Queria ser um espiral, mas é provável que eu seja mais um círculo. Vicioso.
   Talvez minha onda se crie a partir de migalhas de auto-estima, mas regresse ao quebrar junto de algum problema que me rebaixe novamente ao estágio de completa insegurança e autodepreciação. Até a metáfora com o mar faz todo o sentido porque eu odeio o mar, tenho medo e faz parte do cenário da minha infância.
Eu não sou uma pessoa. Sou uma doença, uma falha que precisa de conserto. Mas não tem conserto que dure e resista a uma tempestade mais forte.
   Eu escolhi o mais idiota dos empregos para alguém com baixa-autoestima, convenhamos. É preciso ser uma fortaleza para não se deixar abater pelo insulto diário que é estar na frente de uma classe. Todo dia eu volto para casa acompanhada dos seguintes sentimentos: você não é digna de respeito, você não é boa o suficiente, você é fraca, você não serve para isso. E talvez qualquer coisa mais pessoal que algum aluno queira me presentear.
   Eu tento dirigir minha fúria ao mundo que é injusto, eu tento dizer que só a profissão que é difícil, eu tento quebrar em qualquer coisa que não seja eu mesma, eu tento me defender, mas como? Se ao mesmo tempo deixo evidente, pelo meu próprio sentimento, que o problema sou eu mesma? Quando é, afinal, que o problema na minha vida não sou eu mesma?
   É por essas e outras que eu sei, por mais que os remédios, como camisas de força, não deixem que eu sinta, que a única coisa que faria sentido comigo seria anular a mim mesma. Se sou eu mesma o problema, por que então não acabar com o problema? É a solução óbvia. Mas difícil. Enquanto isso vou a mil seções de terapia, tomo 3 remédios ao dia para ver se construo uma autoestima mais concreta, se saio do mesmo lugar. De vez em quando dou umas voltinhas por aí antes de voltar. Tento acreditar que os passeiozinhos valem a pena, que eu não sou a coisinha (vitrola?) quebrada e irritante que de fato sou. Tento ser forte, embora eu saiba que a única coisa que justifica todos os meus atos seja a mais pura covardia e medo.

3 comentários:

Unknown disse...

Refletir sobre a própria existência é por si só algo que imprime significado a ela. Dá às ondas "história", que é a existência além do tempo da existência, é a memória. Isso tem tanto valor! faz essa onda tão diferente das outras ondas! leia mais porcarias, você vai ver o quanto sua capacidade de analisar/criar/metaforizar é superior ao que se encontra por aí. Penso que o problema dos escritores são os modelos com que se comparam. Ai de qualquer menino se só servir ser Pelé.

Unknown disse...

(Marla)

Marcely Costa disse...

Te amo, Marla!