sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre desemprego e sonhos


Ser demitida foi uma dessas situações de perda da minha vida que me fez perder o chão e me sentir um lixo, mas não durou muito. Como das outras vezes (só que dessa vez foi mais rápido, devido a experiência que tive nos outros episódios), logo percebi que esse era o início de algo bom.
É engraçado como quando as coisas estão indo mal eu fico muito deprimida, mas quando uma tragédia acontece, quando era de se esperar que eu pulasse finalmente de um prédio, dado o drama que eu faço nos menores copos de água, eu fico de repente muito esperançosa e otimista... É quando eu perco algo que eu percebo que no lugar abre uma vaga pra eu ganhar algo novo, e que o novo pode ser ainda melhor. Ou, como no caso do emprego, apenas não tão ruim.
Pelo bem da verdade, eu praticamente me demiti dessa vez. Eu tava muito mal e isso ficou evidente demais pra direção que não quis apostar numa professora a beira do colapso. Não os culpo e até os agradeço. Foi um favor. Eu não ia me demitir, eu não queria desistir. Eles fizeram por mim o que eu não tinha coragem, mas precisava fazer.
Eu sei que desistir não é das coisas mais veneráveis, muito pelo contrário. Eu sei que eu sou uma desistente. Eu me imponho metas muito distantes em prazos muito curtos e por não conseguir correr além das minhas pernas desisto. E sei, eu aprendo (pode parecer que não, mas aprendo), que eu precisava mudar esse padrão. E pensei em fazer isso com esse emprego, mas... bom, não aconteceu. Quando penso que posso continuar tentando, eu penso: ok, podemos, em outra escola, de preferência, mas eu já cheguei à conclusão mirabolante, assustadoramente desconhecida pra mim, de que não é isso que eu quero fazer. É chocante. Porque eu sempre me gabei em dizer que eu sempre quis ser professora. Desde a quinta série eu decidi ser professora de português, especificamente. E, de repente, eu mudo assim de ideia, em seis meses de uma experiência ruim... pode parecer duvidoso, pode parecer desistente, eu mesma desconfio de mim. Mas não muito.
O que me fez pensar foi a terapia. Minha analista perguntou: o que em sua professora da quinta série te fez querer ser professora de português? E eu lembrei: o fato de ela ter passado livros para a gente escrever. Foi quando fiquei maravilhada com a possibilidade de ser... escritora! Não professora, escritora! Onde entra professora nisso tudo? Foi sempre um condicionamento da minha mãe. Acho que ela mesma queria ser professora, mas não sendo, me comprou lousa, me dizia desde sempre que eu ia ser professora. Ela não me forçou, não é isso, mas implantou a ideia, digamos assim... E finalmente eu tomei coragem de bater de frente com essa certeza e questionar: mas é isso mesmo que quero fazer? É isso mesmo?
Eu sei, eu já disse que desisti de escrever para ser professora, o que é um contra-senso, eu já expliquei isso tudo... Ser professora não é fácil. Você é cobrado pela escola, pelos pais, pelos os alunos todo santo dia. E lida com as situações mais embaraçosas. Eu não estou desistindo porque acho que não seria uma boa professora. Sei que não existe dom, existe persistência, aprendizado... mas é isso mesmo o que quero aprender até ficar boa? Sem contar que enquanto eu for uma má professora, convenhamos, eu vou sofrer tudo o que sofri nestes seis meses? Bom...
Tem muitas coisas que sempre me encantaram na ideia de ser professora, dentre elas poder educar as pessoas para construir um mundo melhor. Isso era o fundamental, aliás. Atualmente eu venho me sentindo desencantada, com essa ideia de que pessoas éticas não se formam pela escola, pelos pais, mas por puro e mero acaso. E ainda que não seja, eu não to a fim de discutir pelo resto da minha vida certo e errado, bom e ruim, como se eu tivesse certeza disso... Não tenho. E não estou dizendo que parei totalmente de lutar por algo ético, de ser ética, mas não quero mais viver minha vida na função frustrante de mudar o mundo, de mudar pessoas, por meio de manipulação de ideias – porque desculpe, mas ser professora é saber manipular. E se ainda por cima existe na gente um grande vazio existencial, daqueles que diz que a vida não faz sentido, pra que tanto esforço com ética, educação, etc.? O mundo vai continuar cagado e eu estarei morta.
Eu cheguei à conclusão hippie e tola, mas sincera comigo mesma, de que o que eu quero mesmo é amar e ser feliz. Se a minha vida não tem sentido, esse sentido eu não vou construir artificialmente com ideais de mundo que eu sei que nunca se realizarão. O sentido está, afinal, em ser feliz. Não hedonisticamente, mas tampouco estoicamente (e estou usando essas palavras no sentido mais pobre). Eu quero ter uma vida tranquila e feliz. Eu não quero mais ser a melhor professora, a melhor escritora, a melhor em nada. Ou melhor, eu quero ser a melhor em viver (desculpem o pieguismo e a autoajuda)... Eu decidi que quero um empreguinho. Eu quero trabalhar pra viver melhor. Pensei em trabalhar numa livraria, numa biblioteca, em algo que não seja atender dezenas de pessoas ao mesmo tempo e que, se possível, me leve a lidar com elas, mas não em situação eterna de estresse.
Continuo admirando professores, médicos, todos que se esforçam muito e amam isso. Mas eu, sinceramente, não amo. Não sou competitiva o suficiente, ou, se sou, compito comigo mesma e surto. Não quero isso. Eu quero ser tranquila. E quero voltar sim a escrever, fazer algo de significativo, mas sem pressa, sem grandes esperanças, sem medo de falhar ou de acertar. Será que isso é possível?

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