sexta-feira, 28 de abril de 2006

O que te importa?

Meu cansaço é todo meu, imposto por mim. Se às vezes no silêncio fico quieta e restrita, em outras a obrigação me transporta para um atordoado isso, isso e aquilo e ainda quando vai silenciando minha cabeça fervilha, inclusive durante o sono e não durmo de verdade.
Eu sinto tanto! E tudo isso me dá uma vontade de dizer as impressões, todas elas, enquanto ando de uma aula para o estágio, seja o tempo, seja um casaco, sejam feições, sejam palavras, tudo me toca e me faz querer de alguma forma tocar, assim, escrevendo. Eu me conduzi a achar que era essa a saída, mas, no entanto, eu sei... Sei que sou péssima "escritora", sei que não tenho nada por escrever e todo o sentimento se esvai como todo o pensamento... onde foi parar? Não queria perdê-los, nem essa sensação, queria segurá-los revivendo, transmitindo, quando talvez não seja essa a saída, não para mim, nem seria isso que define um escritor de verdade.
Mas meu cansaço, meu torpor, minhas sensações, talvez, eu só queria que importassem, só queria como está transcrito ali ao lado, submeter minha impotência e insignificância metafísica, mas não vou, mesmo que Fernando Pessoa tenha sido e ainda seja, que importou? Se no que ele me toca só toca a mim e não a ele? Nada que eu faça vai me tirar da minha eterna solidão, porque quando importar o que eu sinto, as pessoas vão se importar é por ser agora delas.
E o que importa o que eu sou? Eu só sou pra vocês, pra todo mundo, o que eu faço. A hora que eu estiver dormindo, chorando, comendo, sei lá, cagando, vai interessar única e exclusivamente a mim, mesmo que eu acorde e do meu lado sempre venha a voz perguntando: "dormiu bem hoje?", num reflexo de: "o que EU devo fazer por você hoje? O que irei RECEBER?". Quando eu deveria evitar agora toda minha ironia porque só a uso por cartárse e isso é uma utilidade puramente irônica, também. Quando eu deveria evitá-la por ser um fim em si mesma inútil, digo apenas pra deixar claro que eu sei que tudo isso é preocupação tola porque:
"Ah, se o centro do mundo de todo mundo fosse o mesmo que o meu!"

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