sexta-feira, 16 de junho de 2006

Eis um trecho do Cântico dos Cânticos do Machado de Assis:
“ficamos a olhar um para o outro, ela desfeita em graça, eu, desmentindo Shelley* com todas as forças sexagenárias restantes”
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* “I can give not what men call love”

1 é pouco, 2 também, 3 melhora... ou Todo mundo é egocentrista ou assim me justifico

Tenho sentido um certo tédio mortal ultimamente, o que me fez pensar ontem pouco antes de dormir que uma saída cômoda era inventar uma história como aquelas do Marcos Rey, ou da Agatha Christie. Um faz-de-conta, um romance-barbie, uma novela, uma volta à infância, seja lá o que for, que me fizesse ter um pouco de aventura nessa vida morna que estou levando. Se a idéia também der sono a vocês, desejo que seja igual ao meu dessa noite, uma noite branca, em branco, em que eu mais pensava que sonhava, enfim, estou sendo prolixa que nem meus professores, foi só um mal sono e se vocês dormirem me lendo espero que durmam pessimamente.
Eu devo ter escrito aqui que uma vez falei nesse tom sarcástico que me é tão comum e me torna essa pessoa vilã, má, mas graças a minha mãe, uma psicopata teórica de atos cristãos (como se eu agisse!)... enfim (>.<), eu disse uma vez pra Simone, a dona da pensão, que eu queria acabar com a miséria, mas simplesmente porque assim eu poderia reclamar em paz, sem ter que pensar que minha “vontade de comer bolo com chantilí” é indigna porque tem gente que passa fome e frio. A pobreza é realmente um saco, como me narrou o Enrico uma vez, que uma senhora pedinte e triste veio interromper seu momento romântico, é assim mesmo, a poesia é impossível com pedintes e criancinhas sujas e esfomeadas. Da mesma forma meus professores se sentem na necessidade de justificar Machado colocando no meio de todos seus romances uma verdadeira ideologia para o bem da humanidade, uma crítica social que eu não vejo, ou porque eu sou uma personagem machadiana e caí no conto do vigário, ou porque ele realmente não acreditasse que as pessoas fossem altruístas. Seja como for, eu me sinto egoísta e sou assim, e é fácil dizer que se é simplesmente, como se fôssemos inalteráveis; mas não seria a sociedade como disse uma personagem minha (será que eu falo sério com “uma personagem minha disse”?, pareceu ridículo e eu sei): uma proclamação de bondade lá fora que se transgride aqui dentro? Lá fora a sociedade, aqui dentro a individualidade. Machado pra mim mostrava isso: que as pessoas dizem e querem acreditar em uma coisa mas fazem outra, porque, talvez, e daí já é opinião minha, a lei da sobrevivência fale mais alto e só os fortes vençam. Graças a deus lá fora ainda existe moral e decência e unidos pelo menos matamos um pouco nossa individualidade que no fundo, no fundo, por mais que tentemos, é amoral. Ou até, melhor: imoral.
Clichês!
O que eu queria com o parágrafo anterior ao anterior era só dizer que eu estou consciente da mortalidade infantil e da máfia das sanguessugas (embora não precisamente, eu sei de nome), mas o que de fato me preocupa é que estou tão cansada da minha monotonia (ui!)...! Ontem eu fui ao supermercado (no caminho eu doei uma porção de roupas que eu não uso pra campanha do agasalho, pessoal) e estava tão, mas tão entediada, que nem os doces mais interessantes estavam me interessando, nem queria ir ao cinema ver o Matheus Nachitergáile, ou seja lá como ele se chame, interpretar um senhor que quer mostrar o cara engraçado lá pro filho. Banalidade das banalidades, tudo parecia fartamente banal. E eu queria, no fundo, mas sem convicção, ver o pessoal da pensão, ver muito o Enrico, jogar pôquer e rir das filosofices e observações engraçadas desse mesmo pessoal da pensão. A monogamia está me cansando – aha!. Mais precisamente: com uma dupla se faz pouco ou nada, não dá pra jogar pôquer direito, truco de dois também é sem graça, sem contar que entre nós não há verdadeira rivalidade, e não tem graça ganhar do Daniel que não sabe perder. Ganhar pra mim é um acúmulo que o meu querido Marlon tão bem resumiu: “bonita, sexy e ainda sabe jogar pôquer”, e eu fico vendo o Enrico com seu tom maldoso a dizer por todos os cantos: que eu poderia ficar pulando nua com um cacho de bananas na cabeça que meu maridinho praticamente não notaria. Estou começando a achar que está no meu momento de ler Mme. Bovary ;D. Mas, é claro, só digo isso mesmo sabendo que o Daniel irá ler, porque eu sei que de fundo não tem nada de verdade escandalosa, apenas que eu tendo a subestimar qualquer amor por uma frieza científica e chula, porque amor não combina com o formato do meu rosto, assim como minha família me ensinou e eu sei que em matéria de família eu e o Enrico somos iguais. E a verdade mesmo é que não acreditamos que o amor é coisa pra ingênuos, mas, pra não sermos ingênuos, dizemos que não acreditamos em amor, ou ele é mesmo muito ruim. É como deus. (E eu e essa mania de ficar achando que têm realmente pessoas parecidas comigo, ou que todos são porque é LÓGICO, pobrezinha...!)
Mas, voltando ao assunto, é fato que não dá pra jogar definitivamente War com duas pessoas, muito menos Imagem e Ação.
E quanto mais eu escrevo, mais eu percebo que qualquer tentativa de interpretação não funciona, nunca funcionará, porque se fosse me levar ao pé da letra ou não, ainda assim, estaríamos enganados. Por isso que eu gosto de vários amigos, suas interpretações de mim quanto mais variada mais parece ser a certa. Talvez seja assim, quanto mais definições possíveis – ainda que contraditórias – melhor.
Mas, concluindo, a idéia é: eu estou entediada (me ocorreu um trocadilho péssimo – eu sou famosa por feitos do tipo -: o mono está me deixando stéreo, hã?! hã!? hã?!). Pra me desentediar preciso de amigos. Não tenho amigos por perto. Logo irei escrever uma historinha de ação que me faça viver longe daqui um pouquinho. O problema: minha criatividade se extinguiu. E eu tenho que estudar pras provas e refletir sobre o mundo... nada de novo no mundo.

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