quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Eu me sinto tão... magra!

Ocorre que eu estava com minha aziazinha e meu temível refluxo, mas nada disso impedia minhas tarefas e vivências como ser social que sou. Porém, eu, muito interessada em comer novamente todo tipo de lixo sem ficar com a boca azeda, paguei caro por aqueles malditos remédios que me receitaram. Eis que começo a tomar eles sexta, fico com uma agitação pavorosa desde sábado, terça já estava miando meu estômago pelo nariz.
Cabe dizer mais uma vez que, apesar de toda tontura por falta de comida, todo o enjôo e impossibilidade visível de qualquer contato com a sociedade lá fora e com meus afazeres, isso não é nem 1/4 pior do que a agitação que eu estava e que me impedia na minha sociabilidade invisivelmente, me forçando a ficar contra minha vontade minutos inteiros sentada ou tentando apanhar o resto de concentração que me restava.
Ainda assim, nunca tive um acesso de dor de estômago tão horrível quanto aquele de terça-feira, NUNCA. Os espasmos estomacais eram tão fortes que a minha primeira sensação ruim sobre minha condição foi uma dor nas costas – sim, minha dor no estômago refletiu nas costas.
Pois bem, agora rememoremos – já que é a única coisa que nos resta neste cativeiro branco em que estou vivendo há dois dias, sem comida fácil, sem ninguém, sem tv, e com livros ruins apenas. Esses remédios magníficos que só faltaram me matar misericordiosamente foram receitados por nada mais nada menos que 3, TRÊS, médicos. Tudo bem que dois deles ainda não eram formados, mas pelo menos um era professor, e os outros estavam ali pelo 4º ano. Agora, me digam, se algum hipocondríaco diz no seu consultório que está com uma dor forte no peito toda vez que passa por um nervosismo (afinal, conferi pela web que realmente refluxo geralmente é confundido com taquicardia), vocês, em sã consciência, passariam para esta pobre alma um remédio que pode causar uma agitação extrema a ponto de elevar qualquer estresse a máxima potência? Mesmo que fosse pura imaginação de hipocondríaco eu jamais – JAMAIS – faria isso com alguém. O Daniel disse que pelo menos um deles é retardado. Eu concluo que além de um retardado outro fazia parte do grupo de lobotomia de risco e a outra fazia lavagem cerebral a seco.
Mas deixemos o fato de eles terem me receitado venenos, terem esquecido de colocar o número do CRM na receita (o que quase me impossibilitou de conseguir comprar o remédio não fosse uma assinatura falsa da farmacêutica) e terem me deixado 4h esperando no hospital de lado. Vamos pensar positivamente que pelo menos eu estou... emagrecendo e não indo trabalhar!
Bem, nisso, tudo tem dois lados – é comum mesmo na coisa mais banal eu ser contraditória –, ocorre também que eu não fiquei tão inutilizada a ponto de não ir fazer uma das provas ontem (das duas que tinha), eu pelo menos hoje tenho tv pra assistir graças à magnificência do Daniel que se deu ao trabalho de instalar um programinha com uma tv de duas polegadas que mal dá pra enxergar a mais de 1m de distância. O problema é que ele esqueceu de instalar o áudio – assim como se esqueceu de ligar pra saber se eu estava bem. À parte o sofrimento que o Daniel deve sentir devido a esses problemas de memória, ele foi muito útil chegando ontem do trabalho e ir fazer compras pra me agradar e, entre outras coisas, comprou 1l de sorvete, uma caixa de croissants recheados com mortadela e uma batata estilo pringles sabor churrasco só pra mim. Puxa, eu fiquei tão emocionada, principalmente porque minutos antes de ele ir às compras (com o meu dinheiro) eu tinha contado a triste história de quando eu fiquei doente tempos atrás, minha mãe teve que ir à igreja e deixou meus meio-irmãos e irmãos tomando conta de mim e eles me ofereceram de almoço nada mais nada menos que um pote de amendoim japonês. Oremos pelo Daniel e sua deficiência mental tão triste e em estado tão avançado(lembrem-me de me indicar adoção quando eu estiver interessada em filhos).

Depois de fazer interpretação do que se tratava todos os desenhos através apenas de imagens e o que os carismáticos protagonistas do Bom Dia e Cia. queriam dizer enquanto escreviam caracteres japonês numa lousa, eu cheguei à conclusão de que deveria ler e comer alguma coisa para forrar por uns segundos o estômago. Eis que descobri que Lima Barreto é o narrador mais desagradável, desinteressante e sem malemolência de toda a história literária (por coincidência ele não gostava do Machado, lastimável infiel u.u), que meu professor, que eu estimo tanto e lê um livro por dia e diz que qualquer um pode ser escritor, infelizmente escreve mal à beça, e que dentre todos os livros ainda não lidos que eu tinha na minha parca biblioteca, eu achei ótimo e muito bem escrito Este Lado do Paraíso do Fitzgerald – que, notem, é um best-seller... talvez meu gosto seja apenas pela tradução... o.o.
Outra coisa que eu acho digno de nota é o fato do meu estômago possuir uma inteligência própria e particular – assim como o Dã –, pois de todas as coisas que pararam no meu estômago eu listo uma caneca de café-com-leite, dois croissants, 4 colheres de sorvete e uma mordida do salgadinho estilo pringles sabor churrasco. Dentre as coisas que eu miei estão respectivamente: banana, chá de camomila e maçã e maçã. E eu juro: não estou brincando.
Agora então, eu decidi escrever quando me percebi por demais solitária apesar das 5 ligações tão solícitas e queridas que recebi pela manhã. Três eram da minha mãe: uma querendo saber se eu tinha melhorado da agitação e se eu tinha entrado para as aulas de ioga além de me receitar um tipo de alimentação (não comer muitos legumes e verduras porque a anoréxica morreu comendo tomate e banana), outra pra me indicar tipos de alimentação e mais ensinamentos sobre culinária, a outra idem à segunda. As outras duas ligações foram do meu patrão dizendo que notara que perdêramos o contanto (obviamente deve ser saudades), se eu estava bem (ele ficou muito triste com minha situação e desejou melhoras pra que eu pudesse trabalhar amanhã), na outra ligação ele queria saber o destino de uma papelada (pobrezinho, queria me distrair, me fazer sentir útil ^^).
Eu me sinto muito agraciada pelas pessoas a minha volta, o problema é que não sei porque defeito intrínseco eu estou desejando matar todos eles brutalmente voltar pra casa da minha mãe e ser cuidada, alimentada e ter tv (de verdade e a cabo! E, sim, os problemas com tv devem ter alguma relação direta comigo, notaram? Foi só eu tirar os pés de casa que eles adquiriram uma nova e ver tv virou virtude), porque de alguma forma eu me sinto responsável por todo esse mal-estar – pois toda vez que sinto um indício de melhora eu imploro de mim pra mim pra voltar a ficar doente, pois preferiria morrer docemente em meio a vômito e solidão do que retornar ao trabalho.
Tenho passado as noites chorando com medo de melhorar e ao mesmo tempo não querendo piorar. Agradável sensação é essa de saber que meu estresse e minha depressão chegaram ao limite e tudo o que eu ganho é um desprezo imenso porque não quero mais trabalhar de empregadinha inútil pra um tremendo otário. Pelo menos desprezo é o que leio otimistamente na cara do Dã quando ele está dormindo e acorda com uma fungada um pouco mais ruidosa que dou, ou então na possível cara de indiferença disfarçada de "estou morrendo de pena ¬¬" que ele me faz nos raros momentos em que o vejo acordado.
E é assim que eu termino este bem-humorado e interessantíssimo post: em meio à solidão total e à preguiça somatizante. Agora vou lá comer mais das batatas estilo pringles sabor churrasco.
(Ah!, e não, eu não vou fazer ioga... acho que me tornar zen ia tirar todo esse meu charme especial e me impediria de ser uma grande escritora. Então lembre-se, se um dia escolhi sofrer foi por você, humanidade *.*)

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