domingo, 9 de março de 2008

Dying in the sun

Cai a água quente sobre a cabeça, se espalhando pelo corpo. É o momento do dia em que mais me aproximo da tranqüilidade de um abraço. Dessa vez você não está mais compartilhando isso comigo. Você está do lado oposto, tão oposto! Ao pensar nisso, mais ainda minha solidão se eleva. Me abraço sozinha, me amo sozinha, compartilho comigo as coisas boas, e todas as coisas más. Falo sozinha, ando sozinha. Quero dizer pra você que... mas ah!, lembro então que você não vai mais escutar. Me sinto triste, me sinto injustiçada. E nenhum amigo de longa data pra me confortar, ficar admirado comigo – realmente, um absurdo. Eu iria me sentir menos louca, menos a única do mundo a saber, única a enfrentar isso comigo.
Então, estou tentando, sabe? Estou continuando, na esperança de voltar a me sentir aninhada e compreendida de novo, afinal tão boa a sensação que ficar sem... ou ainda abaixo de sem... é sobrevida. Mas todas as pessoas que conheço, você sabe, têm aquele egoísmo tão típico dos seres humanos... mas ampliados, ampliados! Pela superficialidade. Por que também não consigo me apaixonar em tempo recorde? Todos egoístas: você é bonita, você é atraente, você é especial. Palavras pra conseguir alguma recompensa. Se eu não der a eles o que dizem que tenho, logo deixo de ser tudo isso. Significa algo mesmo? Sou realmente especial? Se só sou especial a partir do momento que prometer dar algo de mim pra eles. Mas não amo, não amo. Nem no sentido mais rasinho da palavra. Não são bonitos, não são atraentes, não são especiais. Será tão difícil de entender? Em vez de me tratar bem por ser uma pessoa boa, ao contrário, acham que devo fazer ainda mais algo por eles. Não, não querem fazer nenhum esforço, apenas tirar algum proveito. Incoerente e ridículo. Eu não fico com as pessoas porque eu sou algo. Eu sou muitas coisas e isso nunca é suficiente, esse é o problema.
Se não fosse aquela única pessoa que me escutou realmente, mesmo me conhecendo tão pouco, a única pessoa que depois de você ter ido, e do meu querido amigo ter sumido, a pessoa que também é parecida comigo... Pelo menos isso, deus foi bonzinho, não podia deixar a corda esticar demais, afinal. Isso ajuda um pouquinho, embora seja um dejà vu estranho... Quero conhecer mais pessoas assim, pessoas como eu e você. Não sou a única, não. Sou compreendida sim. Sim, sim.
Mesmo assim, em dias como este em que estou doente e sozinha, só queria que tudo voltasse a ser como era e as coisas fossem mais fáceis. Pelo menos para eu poder me recuperar melhor.
Mas vai ver a gente só cresce mesmo quando tem que levantar uma montanha sozinho e ainda por cima está com os braços quebrados. Não pode ser simplesmente difícil, tem que ser impossível. Só assim que desenvolvemos poderes psíquicos extraordinários.

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