quinta-feira, 13 de março de 2008

Sopor

Saio correndo às 13hs do trabalho, logo depois do almoço, para participar da aula de Antropologia do Estado. Chego no meio, perdida, me sinto deslocada e mal pois todos são de História ou Sociologia ou algo assim e eu não sei qual é a imagem que eles fazem de alguém de Letras, mas a que eu passo, eu tenho certeza, é a de alguém fútil. Me sinto inferiorizada e envergonhada. Sento e presto atenção na aula que nunca tinha assistido antes. Não é minha área. Por um momento tento me concentrar na explicação do que veio primeiro: o contrato, o estado, a sociedade, o sei lá o quê? Bate o sono. Um sono horrível, sono de verdade, daqueles que os olhos não se fecham a custo de muito esforço – e eu vou perdendo as forças. Fecho os olhos e ponho a mão na frente, começo a sentir uma tontura – minha alma está tentando sair do corpo. Horas de agonia. Saio atrás de um banheiro para cochilar uns minutos, não encontro nenhum aberto. Molho os olhos com a água do bebedouro. Volto ligada por um tempo... logo a discussão sobre a idéia de um estado construído com base na sociedade patriarcal. Não me interesso. Quem se importa com o que veio primeiro na sociedade? O homem construiu a sociedade, nós temos que entender primeiro o homem, isso é absurdo, é tentar entender de trás pra frente... Sono de novo. A professora olha para mim um pouco – sua voz é suave – olho pra ela com olhos arregalados, como se estivesse muito interessada, só estou segurando o sono.
Cita-se Hobbes e Locke. Me interesso por uns minutos. O homem é o lobo do homem. Um garoto participa o tempo todo – ele deve me achar uma imbecil como as meninas de Jornalismo com fichários rosas que estão na minha frente. Me sinto idiota, lembro do Daniel dizendo: “ah, ela mais madura e busca conhecimento...”, medo de ser fútil, medo... meu sono me desarma. A menina que participa: cabelo claro, óculos. “Ela é mais madura, busca conhecimento”. Me sinto um lixo – certeza que tenho que voltar pra casa, essas pessoas de longe da minha área parecem estar me medindo dos pés à cabeça. De onde tirei tanta insegurança de repente? Meu sono me desarma. Todos pra mim são exemplos do outro curso em que as pessoas são mais maduras e buscam conhecimento, ao contrário de mim. Eu me acho madura, eu busco conhecimento. Mas se o Daniel que me conhece de fora disse que não, devo estar errada. Bad trip de merda, com sono não consigo racionalizar nada, tudo ondas de sentimentos desenterrando idéias desconexas, conexões ilógicas. Professora pergunta qual era o direito do homem mais importante segundo Hobbes. Penso: direito à vida! Só por ser óbvio, nunca li Hobbes. Ninguém abre a boca. Acho estranho eles não saberem, diziam tanto quando era aquelas coisas todas chatas, agora o mais lógico... A professora espera até que diz “À vida, gente!”, isso, agora eu mesma sei que eu não sou tão inferior, mas só eu, só eu e por isso devo estar errada.
Intervalo, fujo embora. Vou para o lado errado de novo, como se fosse em direção à velha casa. Volto para a direção da pensão. Chego na pensão, assino o horário de chegada no espaço errado – primeira vez que faço isso. Passo sem querer direto pela porta do meu quarto – primeira vez. Estou mal, estou louca. Sono retardado, imbecil.
Tanto sono, mas o pior é que fiquei assim ruim. Por isso é que em vez de dormir venho falar com você.

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