segunda-feira, 31 de março de 2008

Never is a promise (2, O retorno)

Eu deveria ler mais meus arquivos antigos, talvez, porque tenho a impressão de que minha memória apagou algumas coisas essenciais. Por exemplo, de onde veio essa impressão insistente, constante de que as pessoas sempre me abandonaram(ão)? Se eu faço um esforço de memória, lembro de uma, no máximo duas pessoas que me fizeram isso, nada mais. Por exemplo, o Daniel. Mas lembro perfeitamente que já com ele eu tinha a mesma insistência, a mesma idéia fixa. De onde veio? Só por causa de uma ex-amiga? Não pode ser por causa de um caso isolado, apenas, minha convicção era como se isso tivesse acontecido diversas, diversas vezes. Vidas passadas? Porque se esforço por me lembrar, lembro mais de pessoas que eu deixei por indiferença do que pessoas que me deixaram. Mas é estranho, quem será ou serão essas pessoas misteriosas que me abandonaram no passado e eu não lembro? Eu tenho certeza de que tem mais gente. Sempre me refiro a “eles”, a “todos”. Uma pessoa fez eu confrontar a idéia: “Mas eles quem?”. Sei que tem muita gente, só não sei quem é.
De qualquer forma, sinto essa melancolia constantemente (essa sim, companheira fiel, nunca vai me deixar =)). Eu questiono e analiso tudo com muito esforço pra pegar coisas no ar. Percebi que o Daniel deixava de gostar de mim, talvez, mesmo antes dele. Não é só uma paranóia. Não, não é. Uma das minhas teorias é de que as pessoas costumam gostar de uma aparência minha, ou se deixam encantar tanto por ela, que o interior vai sendo esquecido... o exterior cansa, então é tão fácil deixar de gostar. Não, eu não sei. Eu pensava na personagem do filme que dizia algo como: “as pessoas pensam que eu vou tornar a vida delas intensa, mas no final das contas eu sou só uma pessoa fodida tentando achar paz de espírito”. Mas se ela tentava parecer intensa, também, que culpa tinham os outros? Como se tivessem culpados...
De qualquer forma, lembro perfeitamente da cara de chateado do Daniel quando eu dizia coisas como essas de agora. Então ele dizia: “jamais deixaria você”, “confie em mim”, eu não vou te deixar como essas pessoas”, “eu não sou assim”, “mesmo que cansasse eu avisaria” e coisas do tipo. Será que eu acabei convencendo ele da idéia que iria me deixar e ele se acostumou com ela? Ou será só que eu torno as pessoas impotentes com esse meu tom profético apocalíptico? De qualquer forma, ele me deixou, eu não deveria ter confiado, ele não me avisou, ele era assim sim, ele se cansou, ele não avisou. As pessoas jamais, jamais deveriam prometer coisas. Ainda mais se são incapazes por algum motivo que eu nunca saberei ao certo de se manterem fiéis a essas promessas. De tanto vivenciar coisas como essas (tanto quanto? Com quem? eu não sei, mas tenho todas as sensações vivas e acumuladas dentro de mim), eu sempre questiono, eu sempre “torturo” as pessoas com a minha incerteza, eu nunca dou certezas. E no fim, eu acabo sendo mais leal.
Não importa, o jeito é eu me acostumar que as pessoas vão me deixar, simplesmente me acostumar e viver feliz com a efemeridade. Afinal, essas lacunas de memória, essa minha dificuldade de rememorar coisas felizes, não seria já um exemplo de como não fui feita pra viver nada duradouro? Ou de que fui feita pra viver de coisa alguma, já que vou esquecer mesmo? As pessoas sensatas sempre me avisam: as coisas não duram. É, eu sei... mas que podiam ser um pouco mais longas, podiam. Que eu pudesse confiar, podiam. Passa um ano de desconfiança, um ano e meio... e quando eu começo a confiar é que as coisas estragam. Como se fosse um grande sadismo pra testar minha capacidade de confiar nas coisas, testar minha ingenuidade. Como disse minha mãe, só podemos confiar em Deus, só ele é nosso amigo. E deus nem existe, confiança não deveria existir – nem em nós mesmos, afinal a gente se contradiz, não se contradiz? Mesmo os mais convictos.
Vai ver é isso, eu vivo fazendo as pessoas se questionarem. Se questionarem demais. E elas não estão prontas pra lidar com as incertezas. Questiono as incertezas. Deixo as pessoas inseguras. Não, não fiquem, esse aqui deve ser um post de enterro para os meus questionamentos e desconfianças com os outros. No máximo, vou fazer um esforço pra guardar isso pra mim – eu que não sou afeita a guardar coisas só pra mim, mas uma hora tenho que começar a fazer isso sim, é uma questão de controle e de maturidade, afinal. E, no fundo, nunca perco as esperanças. Se tivesse perdido...... Também, só acho uma teimosia infantil da minha parte querer que as coisas sejam eternas. Um dia eu me convenço realmente de que elas não precisam ser. Porque saber eu sei, o problema é convencer minha cabeça cheia de utopias.

Nenhum comentário: