terça-feira, 1 de abril de 2008

Sem título número 12 – Apanhado geral de coisas sem relação alguma

Na aula de hoje, os alunos estavam participando de uma dinâmica em que uma dupla escolhida ia na frente da sala, respondia umas perguntas, pagava algum mico e depois voltava para a carteira. Depois de se apresentar, a dupla tinha ficado lá na frente parada.
Professora: O que estão fazendo aí ainda, meninos?
Dupla: Hã?
Professora: Sentem!
Dupla senta-se ali mesmo no chão.

You better hold on to your promises

Eu lembro. Lembro, agora, das pequenas cenas de rejeição que me deixaram pensando desse jeito.
Mas pra quê me importar com isso? Se é verdade que todos têm o mesmo medo e apenas evitam pensar no fim (pois sabem tanto quanto eu que ele existe), o que me chateia é que saber do fim já fere meu orgulho antecipadamente. Não é agradável dizer pra alguém que eu gosto ou expor isso de qualquer forma sabendo que não daqui a muito tempo isso será algo como uma falha. Sensação de estar me arriscando, subindo numa montanha-russa, apenas. Se eu não tivesse esse orgulho tão ferido, diversas vezes reconstituído e por isso fortíssimo, seria mais fácil deixar apenas me levar simplesmente pelo bem-estar. Mania minha também sempre olhar o lado negativo e ficar esperando impacientemente o pior!

Primeiro de Abril

Importante: observe bem o oponente pra saber como ele mais cairia na mentira. Testei todas as entonações e formas de dizer a mesma coisa possível. Todas deram certo.
Para a Eli, cara de quem vai contar uma novidade não muito surpreendente: “Sabia que eu voltei com o Daniel?”
Eli fica um pouco desconcertada, olha bem pra mim pra ver se estou mentindo, me mantenho impassível: “mas como...? Quando...?”
Minto mais um pouco, mas não suporto. Primeiro de abril. Preferível blefar all in com um par de 2 na mão do que dizer isso.
Pra mentir é preciso tornar a mentira provável. Essa probabilidade me exaspera. Fico irritada também porque fingir burrice e ver as pessoas acreditarem é um tanto quanto desagradável para a minha auto-estima (como eles acham provável que eu aja dessa forma? ).
Elaine. Aparento ingenuidade, cara de quem pegou doce escondido, confessou e tem medo de ser repreendido. Mesma frase.
Elaine se indigna, arregala os olhos. “Como? Quando isso? Eu não acredito, Marcely... mas por quê?”. Fico com pena da cara de mãe preocupada, então primeiro de abril.
Pati. Saio sorridente e saltitante, conto como se fosse a novidade mais maravilhosa do mundo.
- Pati, voltei com o Daniel! \o/
Pati vira o rosto, fica enfezada e quase sai andando sem dizer nada balançando negativamente a cabeça. A reação mais engraçada de todas. Quando ela está quase indo dizer algo como um parabéns sarcástico, eu digo que é mentira. Foi a que mais riu da piada.
Edi. Está lá meio abatida no canto, mas falo mesmo assim, dessa vez séria, aparentando que é uma novidade e tanto, que talvez ela possa gostar. Mesmo arregalar de olhos, mesmo “mas como assim? Mas e...?”. Sorrio e digo primeiro de abril. Faço ela rir um pouquinho. “Ah bom! Porque...”.
Professora Rosi. Conto enquanto estão entrando os alunos na sala, sorrindo com naturalidade, arrumando as coisas da mesa, da mesma forma que contei quando conheci amigos. Ela arregala os olhos, cara de quem não sabe se ri ou chora, incrédula, se agacha no chão com a mão no rosto. Eu digo primeiro de abril e ela dá tapas no ar na minha direção enquanto ri. Foi o jeito mais bonitinho de reagir.
Teve também o Pedro e o Gustavo pra quem contei sem demonstrar muita importância enquanto pegava comida no refeitório. Ficaram com cara de desnorteados, Gustavo dizendo que eu era contraditória porque ontem mesmo eu estava feliz por outra coisa muito diversa (ele foi o que mais achei improvável que fosse acreditar por isso mesmo, mas acreditou). Gente, eu que nunca soube mentir enganei tanta gente! Primeira vez que minto em larga escala num dia bobo como o primeiro de abril e ainda acreditam.
Pra finalizar, ainda consegui algo inédito com a aluna que me abordou dizendo: “professora, esqueci todo o meu material de português... =/”. Olho nos olhos dela e sorrio “Primeiro de Abril, né?” (“Ahhh! A professora de Filosofia acreditou quando eu disse pra ela!”). Eu não caí em uma mentira! Não caí! E até agora não caí em nenhuma (mas é como não tropeçar nas calçadas de Curitiba, quando eu acho que estou atingindo minha meta...).
Mas o importante é que sinto que logo realizarei sonho de vida de me sustentar somente através do pôquer.

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