terça-feira, 17 de junho de 2008

Sem título 19

Não é que em Tlön não seja recomendado falar do governo ou algo assim, mas como é característica da linguagem daqui não termos substantivos – substituídos por adjetivos – fica difícil falar dela de outra forma que não seja num conjunto de elogios sinceros e discretos. Acontece que nem sempre os cidadãos de Tlön estão plenamente satisfeitos e, muitas vezes, característica comum, blog serve para desabafar. Mas como falar de Tlön sem os adjetivos elogiosos cabíveis? Não chega a ser uma questão de censura, necessariamente, mas características de linguagem e relação dos indivíduos com ela.
Morando em Tlön me cabe a difícil tarefa de ser muito discreta e polida com o que digo – para não desagradar os leitores. Por questão de espaço e familiaridade uso português, mas Tlön não é totalmente Tlön traduzida para os substantivos do português, isso é verdade e desde já peço desculpas aos conterrâneos de lá (pela linguagem, pelo post muito direto que estou disposta a que seja o último).
Não há censura declarada em Tlön, como eu disse, portanto vou parecer injusta nas possíveis linhas que se seguem, mas peço aos meus amigos de Tlön que sejam pacientes com minha impertinência.
Como esse foi um semestre extremamente marxista e cujo assunto constante foi Ditadura Militar, fico lembrando das técnicas narrativas, formais etc. adotadas pelos músicos e escritores na época para desviar da censura e sinto que esta seria a melhor maneira de, aqui por diante, me referir à vida em Tlön. Não, repito, não porque haja censura de fato, mas para que os cidadãos daqui não fiquem insatisfeitos com minhas injustiças e para que ambos os lados saiam ganhando. Ambos os lados saem ganhando quando eu conseguir transformar minhas crônicas umbiguistas em contos mais alegóricos, universais, algo sobre a miséria ou alegria humana.
Dizem que em Tlön, quando você consegue escrever algo realmente bom, você é presenteado com a autorização de 1 (uma) autobiografia de 1 (uma) página.
E todas as partes saem ganhando. Sem mais perfídia, malícia, sarcasmo ou saudosas críticas ácidas com humor negro de nenhuma delas.

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