Tem alguma coisa no sorriso do Eros, que não tem em nenhum outro sorriso, que o torna mais bonito que todos os outros – foi o que fiquei pensando. E não é só uma questão de amor, compreensão, cegueira minha ou seja lá o que valha, eu sinto isso como uma conclusão racional daquelas instantâneas. Então, num momento efêmero de paz interior e contemplação, pude raciocinar mais lentamente o que tinha no sorriso dele que o tornava especial, principalmente porque eu já tinha dito “você tem o sorriso mais lindo de todo o mundo” e eu precisava fundamentar a tese – não se pode sair distribuindo elogios assim totalitários gratuitamente, eu tenho um compromisso com a verdade e isso teria que ser verdadeiro mesmo se, por um acaso, eu não estivesse mais com ele. Então, voltando a pensar, após ter visto ele sorrir algumas vezes antes de fechar os olhos, pensei então em que outro garoto poderia ter um sorriso bonito – e lembrei do meu irmão. Meu irmão tem grande orgulho do seu sorriso e sorri como um pavão mostra a cauda, os dentes dele são perfeitos sem nunca ter tido que usar aparelho e ele sempre se gabou disso, mas então tentei lembrar e, além do fato do Junior, meu irmão, sorrir orgulhoso (o que já é um ponto a menos) meu irmão tem os dentes quadrados embaixo. O que quer dizer que eles têm um formato retangular, mais retinhos nas pontas... e tentando lembrar de todos os sorrisos que já prestei atenção, todos eram assim, com sorrisos quadrados – o Eros, não: dentes redondos embaixo, como se fossem um monte de ondinhas, como aqueles babados de toldos. E isso é uma grande vantagem, pois todos sabemos que o formato arredondado é muito mais bonito. Fora isso (que nem é o principal), o Eros tem um jeito de sorrir que parece que ele está sempre sendo sarcástico. Mais precisamente, é como se ele se sorrisse do próprio sorriso, risse da própria risada – é um grande mérito: que revela ao mesmo tempo uma certa humildade e autoconsciência e inteligência.
Outro ponto que o Eros tem de bonito, então, eu passei a pensar, é o fato de usar óculos. Ele tem a grande virtude de ter de usar óculos e ficar bonito (mais bonito, não tenho certeza) com os óculos. E ele fica bonito também sem o óculos. Então a vantagem maior ainda disso é que é como se eu tivesse a oportunidade de ter Eros diversificados, ou seja, nunca cair no tédio de observar ele, tem o Eros com e o sem óculos, entende? É como dormir com a Tonks do Harry Potter.
O problema desse post não é nem o fato de ele não interessar ninguém além de mim e do Eros (já que, tudo bem, somos só nós dois que lemos mesmo!), o problema é que o Eros é vaidoso e vai ficar contando vantagem com essa bosta que eu escrevi. Eu gosto disso nele – a autoconfiança, a vaidade e o humor – porém com certas ressalvas: não tem graça alguma elogiar alguém que sempre se porta como um chato: “sim, eu sei”. Eu também faço isso, mas todos sabem o quanto eu sou a pessoa mais superior de toda a humanidade e tenho razão em agir assim. Ele não, ele até tem razão de se achar porque é bom em um monte de coisas, é inteligente e tem dessas coisas bonitas, mas deveria se portar com mais subserviência já que convive comigo o tempo todo e um sentimento de inferioridade enorme já deveria ter tomado conta dele a ponto de me fazer dizer: “mas você é quase tão bom quanto eu”. Acontece que não é assim e a gente em vez de trocar carinhos e elogios, mais passa o tempo competindo quem é o melhor em o quê, o mais perspicaz ou mais bonito. Sim, vocês podem apontar, isso demonstra o quanto no fundo, no fundo, somos dementes, mas o sentimento de superioridade vicia e a gente sabe, como bons relativistas e pessoas (eu em maior grau) tão fodidas em sua relação com a vida como qualquer outro, que na verdade somos também tão grande merda quanto qualquer outro idiota – mas o que nos interessa é que: ou não.
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