sábado, 2 de agosto de 2008

Sobre a categorização de pessoas e a finitude das coisas

É bom registrar isso: não escrevi todo esse tempo porque o tempo estava ensolarado. Cheguei à conclusão que existem três tipos de pessoas: as extrovertidas, que amam o sol e o contato com os outros e apreciam das coisas como as borboletas – não sei porque a imagem, mas é a que me surge mais exata; e tem as pessoas introvertidas, que amam o tempo fechado, que apreciam as coisas à distância da lembrança. O Eros adicionou que (ele leu que) as pessoas introvertidas pensam mais em como as coisas a afetam, enquanto que as extrovertidas afetam as coisas (ou algo assim, ou aumentei os tais dois pontos...).
Bom, eu sou uma pessoa realmente introvertida e só o céu nublado me devolve à minha natureza introspectiva. Se eu morasse (sozinha?) num lugar que chovesse sempre, quem sabe eu seria escritora? Mas se é pra abrir mão de alguma coisa, ninguém abre das que os fazem felizes – a não ser que sejam burros, ou acreditem em alguma transcendência final –, portanto se pra realizar um sonho infame como esse de ser escritora fosse necessário deixar o Eros e viver na solidão, prefiro mil vezes não ser escritora mas ser namorada, pessoa, o que for. Porque amar alguém como o Eros é a única coisa que, até hoje, me fez tantos dias consecutivamente feliz.
Parece mesmo que tudo é um sonho e dentro da minha cabeça o meu namorado deveria se chamar Eros (obviamente, seria bastante simétrico) e ele teria todas as qualidades que eu prezava naquele que não deve ser nomeado muitas vezes só que multiplicadas à máxima potência, além de todas as qualidades e defeitos que gosto e que faltavam.
Uma coisa que me preocupa é saber: não necessariamente o Eros, principalmente ele, mas não necessariamente... se outras coisas também não corressem bem, eu não estaria contente – mas é óbvio! Por mais fútil que seja, é verdade que mudar a cor do meu cabelo e me ocupar com isso me faz bem também. Eu tenho necessidade de que as coisas mudem de vez em quando, ao mesmo tempo não acredito no valor das coisas que não sejam constantes e duradouras. Eu sou contraditória, mas “coisa” é uma coisa muito ampla, e tem as coisas que devem durar e as coisas que devem variar. Eros é a primeira coisa – a coisa importante – meu cabelo ajuda na segunda coisa – as coisas vulgares de sempre.
Outro dia eu dizia para o Eros que o Diego era alguém importante pra mim porque era o único que, até então, não tinha me abandonado em tanto tempo, porém, não passou muitos dias o Diego subitamente (e misteriosamente, como sempre) me abandonou. Eu fico tentando achar motivos – e muitos me parecem possíveis (eu sou muito insegura quanto a ser uma pessoa boa, geralmente confundo com ser perfeita, eu não sou – e é por isso que as pessoas me deixam?). Se com antes do Daniel eu já achava que as pessoas me abandonavam, com o Daniel e agora ainda o Diego então se torna quase certeza. Sendo assim, me dói amar o Eros, me dói saber que ele é uma pessoa perfeita pra mim. Eu acho o tempo todo que num futuro (quem sabe o quão próximo, às vezes acho que pode ser pouco mais de um ano, às vezes quatro, às vezes quarenta) ele vai me deixar também, e tudo então que se vive está condenado ao esquecimento, todas as declarações de amor são inválidas, falsas, e toda a alegria uma vergonha. Registrar que gosto dele não é seguro, nada pode ficar além de enquanto o amor durar, pois é tão ridículo uma declaração de um amor que já não existe mais...! É nisso que penso a maior parte do tempo, nem sempre vale a pena externar, afinal nada do que o Eros dissesse ou fizesse mudaria minhas idéias obsessivas quanto ao fim, todos já sabemos disso. Por isso acho que evitei tanto comprar um livro – e principalmente escrever uma dedicatória: esse era o problema, depois uma outra namorada ler que meu amor também era infinito? É tão ridículo!
Fico tentando pensar friamente de como seria um desfecho, se eu seria capaz de, por orgulho e persistência, continuar. Bom, eu podia ir morar num fiorde e virar escritora, é verdade, mas eu teria o equilíbrio pra escrever coisas boas? Provavelmente eu seria tão torturada pela solidão que não conseguiria fazer mais que me lamuriar por extenso. E não que eu exclua totalmente (depois da primeira decepção e posterior enorme consolação) a possibilidade de que possa amar outras pessoas também, porém lá se vão as últimas fichas de uma débil confiança de amor durável, eu descartaria qualquer valor que pudesse qualquer relacionamento ter novamente, porque pra mim amor tem que ser pra sempre (sim, eu sou romântica, mas acredito, por enquanto, que não utópica), não faz sentido fazer planos que não se realizam – ou não fazer planos – não faz sentido se desnudar pra depois ter vergonha, não faz sentido conhecer plenamente pra depois ter que esquecer totalmente. Fere meu senso de verdade. E além do mais, mais do que ser escritora, eu quero ter um relacionamento saudável, verdadeiro e feliz: amigos pra sempre, namorado pra sempre... se as coisas forem assim sempre com prazo de validade, pra mim, estão podres desde já.
Mas, por enquanto, o Eros está comigo e se é pra desperdiçar meu último quinhão da pouca fé que tenho, com ele, pelo menos, vale muito, muito, muito a pena e eu não vou amar ele menos por uma desconfiança no futuro. Assim, o meu “que seja eterno enquanto dure” assume outro aspecto, mas é que existem três tipos de pessoas: as constantes e as inconstantes, que não acham nada importante (e então tudo deve assumir sempre uma enorme variedade)...

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