quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sobre a minha definição de amor

Quando olho pro Eros, fico admirada como eu quase sufoco de alegria, satisfação e admiração pela beleza dele. Isso me faz lembrar da primeira vez que tive contato com a imagem dele, ou da forma como eu sinto a beleza das coisas.
É interessante, se eu me lembro da primeira vez, eu vi uma foto dele. Eu fiquei suspensa ante o que eu poderia encontrar na foto. Tive uma pontinha de medo, de medo de me decepcionar – eu fazia uma idéia de 30 anos... pra mim era a perfeita imagem de um homem de meia-idade, calvo e barrigudo (eu sei, eu sei, podem ficar indignados). Eu fiquei com medo de achar ele feio, porque eu gostava de conversar com ele e também porque tinha medo de ter que emitir alguma opinião. A foto que ele me mandou não era de um homem assim, mas também a foto imóvel, sem sorriso, mostrando só de um ângulo não foi muito precisa pra mim. Eu só soube dizer pra mim mesma que ele não era o velho homem macho despreocupado com a aparência que eu desprezo. Mas mais nada. Mesmo no primeiro encontro, eu lembro que eu não olhei muito pra ele, eu tinha medo, eu precisava conhecer ele antes. E é aí que eu quero entrar com isso tudo.
Eu não sei amar sem conhecer. Foi só no segundo encontro que eu senti uma atração por ele e isso foi um recorde pra mim, porque eu jamais sinto interesse assim tão cedo, muito menos atração sexual, isso ainda menos! Eu não estou mentindo aqui pra lisonjear ninguém. Aliás, eu não to mentindo, estou tentando ser séria e franca mesmo em dizer certas coisas que gostaria de não dizer.
Mas voltando ao que eu falava, se tem uma frase que eu acho simplista, mas entendo em parte, é aquela de que o amor é cego. Talvez, no bom sentido, o amor enxerga melhor, pois você conhece a pessoa por inteiro, você enxerga ela toda, por dentro de si mesmo, dentro e por fora dela. Eu me interessei pelo Eros, eu sei, porque ele soube que atitude tomar. Ele foi interessante e cativante, mas não demonstrou um vivo e claro interesse por mim. Eu podia pressentir – o que me animava – mas não podia ter certeza. Era bom saber que ele não era mais um dos que me adoram perdidamente só por causa dessa ou daquela perfeição (sem ter tempo de ver e gostar do meu lado falho, ou seja, de me amar por inteira). Tenho também quase certeza de que ele sorriu, apesar da postura séria – e enganadora de homem sério, ainda bem.
Mas voltando – de novo! – àquela parte da beleza, eu sei que só pude ver a estonteante beleza do Eros quando conheci melhor o estonteante Eros todo. Eu só pude ver o quanto o sorriso dele era irresistível e belo quando eu me acostumei a perceber do que ele sorria. Só pude amar da mesma forma os olhos, porque comecei a entender o que ele via. Eu amo de dentro da pessoa pra fora. Talvez por isso eu seja tão desligada. Eu não estou sendo mentirosa de dizer que não sei reconhecer alguém muito bonito só de olhar. Não, eu sei que sou capaz, mas não é muito, é isso que quero dizer. Já aconteceu, por exemplo, dos filhos de uma professora com quem eu almoçava serem muito bonitos e eu só conseguir reparar quando alguém me disse isso. Mas não me interessava muito além disso. Eu sou do tipo de pessoa – e isso aqui não é só pra me gabar ou dizer: olha como sou romanticamente correta ou, até minha fruição estética é racional, isso é só mais um daqueles posts de autoconhecimento – que ama uma pessoa toda. Se vejo alguém diferentemente do usual, bonito, aí sim eu me interesso. Acho que sou igual aquela fotógrafa do filme – só que não tão aberrante –, eu só gosto do que é minimamente diferente, de alguma forma único, individual. Alguém, enfim, que se expressa por dentro e por fora com autoconhecimento. Só que nem todo mundo é tão óbvio no seu diferente, nem nem todo mundo é óbvio no ser único. O Eros é uma dessas pessoas. Em música eu também sou assim, eu costumo gostar dos sons que são únicos, das vozes que são uma expressão individual única. Não o bem-comportado padrão de certo ou estético. E em música geralmente os sons, na primeira vez que ouço, enquanto não conheço por completo qual é o "clique" da música, eu não sei bem se gosto. Com livros também, alguns eu gosto de início (porque o narrador tem um jeitinho inconfundível, único e seu de verdade, pois se autoconheceu – o que não acontece com o Guimarães Rosa, eu sinto que ele finge que é alguma coisa, não é autêntico, se enfeita da boca pra fora, por isso não gosto dele), muitos outros eu demoro duas leituras pra pegar (e, olhe só, foi assim com o meu tão amado Machado de Assis também!). Enfim, meus maiores amores na vida eu tive que saborear lentamente, no mínimo duas vezes, antes de dar um veredicto final. Talvez porque sejam dessas iguarias finas que têm um valor peculiar tão suave e genial que é preciso ir devagar, sentir cada detalhe aos poucos.
A Anaïs Nin fala isso quando diz que a mulher mistura sexo com amor ou emoção. É por isso – e agora sim eu estou me gabando – que eu não gosto muito do jeito que os homens gostam ou amam. Aliás, não é não gostar, eu não confio mesmo. Homens tem essa mania de amar as pessoas "à primeira vista", instantaneamente. Oras, a não ser que eles sejam todos Machados de Assis e tenham lentes de enxergar à velocidade da luz a alma humana, isso de amar só de ver uma pessoa é uma ilusão, uma grande mentira. Se não é assim, gostam de mim porque eu gosto de Beatles também, gostam do jeito que eu escrevo, ou porque eu tenho um senso de humor legal, ou porque falo coisas inteligentes... Mas eles parecem nunca amar por inteiro mesmo. É um amor – coitadinhos! – tão oco, tão imitação fajuta! É por isso que eu fico pensando: será que fulano me amou mesmo? Ou como agora, será que o Eros me ama mesmo? É difícil saber, porque eu tenho a impressão que, por mais que você explique, homens nunca entendem de verdade o que é amor. Eles querem tanto amar que acham que esses gostos egoístas são o mais puro amor. Capaz que eles digam que amavam o carrinho de controle-remoto quando eram pequenos – se eu negar, capaz que digam que é na integridade do carrinho todo, porque ele era amarelo.
Se amar é ver algo muito bonito ou muito diferente ou muito sei-lá-o-quê e querer avidamente para si, apenas, eu amo do fundo do meu coração as minhas peças de roupa e sou tão importante quanto um enfeite pra alguém. É isso o que estava pensando no filme ontem, no qual o cara se consumiu de "amar" um menino porque ele era bonito e jovem. Ele não trocou uma palavra com o Tardzo, mas morreu do coração, se degradou ao máximo porque o Tardzo era bonito. Nem que fosse especial e unicamente bonito! Ele nunca amou o Tardzo mesmo, se ele não conhecia bem o garoto todo (ou quase todo...). Amar é aquilo lá do filme da Bridget Jones, é amar alguém apesar e porque tem defeitos, enfim, do jeito que ele todo é. Senão, acaba acontecendo aquilo, de os defeitos do outro acabarem sufocando o amor que você (não) tem.
E, enfim, pra mim é assim com o Eros. Eu amo ele todo, e amo cada vez mais que o eclipse vai se desfazendo, e ele vai se mostrando. Eu gosto até do orgulho dele – até do insuportável orgulho ferido dele – até quando ele é ciumento eu amo ele todo, porque eu o entendo e vou entendendo, do jeito de sorrir ao jeito de olhar. E eu fico admirada, como eu disse...

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