domingo, 4 de janeiro de 2009

Da inexistência exterior

Ela me faz lembrar de mim. De quando nas férias eu ia me encontrar com meu pai, um lado da família tão distante que a afinidade só parecia brotar do sangue - e eu não via esse sangue porque ele era coberto pela minha pele, mas eu sabia que estava lá. Meu pai era um monstro no dizer da minha mãe, um parente importante no dizer do meu irmão-pai. Eu ficava dividida entre o medo, a submissão e um estranho amor coberto por nervos e carnes. Meu pai me levava a lugares estranhos, que não eram nem meus nem alheios, para visitar parentes que eu não sabia nem nunca consegui memorizar de que grau, se eram primos, tios ou simplesmente amigos... ou primos, tios, irmãos de um outro alguém. Nesses lugares uma conversa adulta se travava, os assuntos eram estranhos, as risadas apenas pontuações da fala, os da minha idade eu não sabia se tratava como primos, como amigos ou como monstros sangüíneos. Eles eram estranhos: de outro credo, de outra cultura, de outro lugar. Minha postura era a de observar. Eu não amava, não tinha saudades de ninguém, nem sabia como tratar. Eu ficava presa ao meu pai por aquele frágil elo e olhava tudo sem curiosidade, apenas com compreensão. Meu olhar era igual o dela. Eu não sorria mais do que por simpatia, mais por missão. Eu olhava e existia dos olhos pra dentros pra mim, dos olhos pra fora para eles. Eu não era ninguém. Eram semanas de inexistência exterior.

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