quinta-feira, 1 de abril de 2010

De como o ser humano não consegue se ver livre de padrões, tendências e preconceitos, mesmo quando deseja isso

Nos Estados Unidos existe uma separação entre negros e brancos bastante óbvia. Existem bairros negros, restaurantes negros, filmes negros e seriados negros. Como aqueles filmes ou seriados em que todas as personagens principais são negras... Bom, nem de longe eu vou responsabilizar totalmente os negros por esse tipo de atitude, por xingarem os brancos de branquelos, por odiarem os brancos. Porque se isso existe, existe por alguma razão: porque os negros foram tratados algum dia do mesmo jeito pelos brancos. De alguma forma é uma forma de vingança.
No entanto, assim como apesar de clichê é verdade que não se repara violência utilizando violência (é, coisa que os EUA realmente não sabem...), não se repara um preconceito se utilizando de outro preconceito. E eu tenho percebido que na sede de serem pessoas conscientes, as pessoas ficaram fanáticas da mesma forma que os fanáticos com os quais elas lutam. É, é uma coisa perceptivelmente burra, mas gente sem bom senso não falta e se torna fanática achando que não é fanática, se torna burro por se achar mais inteligente do que os outros. É uma lástima, pra não dizer que é vergonhoso.
Aqui em Brasília eu percebi que é muito mais notável um machismo dominante. Pra contrabalançar existe o povo que é feminista ao extremo, que odeia homens, que odeia qualquer tipo de relacionamento convencional e que despreza qualquer tipo de construção familiar. Esquecendo que apesar de existirem mulheres submissas aos homens e homens dominantes num relacionamento infeliz, existem pessoas que se casam por afinidade e se respeitam mutuamente e se vivem sempre juntos um com o outro não é porque prometeram isso na frente de um padre ou pastor ou juiz, mas porque GOSTAM de estar sempre juntos. Por que todo mundo acha que todo mundo é louco por sexo e só vive de aventura em aventura, como um Don Juan ou Anais Nin? Ou ninguém é capaz de gostar mais de uma pessoa, ter mais afinidade com uma do que com outras? Por que alguém pode simplesmente não ter tesão por outras pessoas além da pessoa que já está junto?
Por que na ânsia de serem livres de padrões, as pessoas sentem necessidade de impor outros padrões? Isso não faz sentido algum!
Eu digo isso sendo completamente honesta. Eu GOSTO de comer com o Eros vendo tv e fazer o nosso “sexo de sempre”. Não me sinto excitada por outros caras ou mulheres. E principalmente: se eu vou pra algum lugar, gosto de ir com ele porque eu sinto falta, ele é como um melhor amigo indispensável. Pode não ser tão legal como manda a moda, mas é o meu jeito de amar. Seria a mesma babaquice que instaurar a regra de que todos devem ser gays ou algo assim.
Eu digo isso respeitando profundamente todo o público GLBT, todos os relacionamentos não-convencionais. Acredite, só porque eu não sou não quer dizer que eu sou contra! Só porque eu sou branca não quer dizer que eu deteste negros. E não dá pra querer transformar toda a raça humana em negros, GLBT e em pessoas adeptas do “amor-livre”.
Mais uma vez, o que houve com a ideia de DIVERSIDADE? Eu sou ateia e tenho verdadeiro trauma de crentes, mas fiquei realmente chocada numa mesa em que as pessoas faziam chacota de quem acredita em Deus. Eu não vou ser hipócrita, sendo eu ateia não vejo como alguém possa acreditar em Deus. Mas mesmo que eu não entenda, eu respeito. Alguns crentes são estúpidos, mas eu não considero todos dentro desse mesmo parâmetro. Da mesma forma que é ridículo que – porque alguns negros roubam – eu achar que todo negro é ladrão.
E aí a pessoa fala mal de quem acredita em Deus, mas adora zodíaco. Parece que tudo é uma pose de Do Contra. Sou contra a fé, mas sou contra os racionais positivistas, sou contra a família, sou contra os heterossexuais, sou contra as maiorias. Isso tem a mesma profundidade e personalidade própria quanto as pessoas que costumam vestir as roupas que saíram na Marie Claire só pra seguir a nova tendência. São as pessoas “in” do mundo intelectual. Você pensa por si próprio? Não, você pensa o que é tendência.
Continuando na metáfora, o mundo parece dividido entre uma maioria que é massa e não tem dinheiro pra se vestir – e por isso veste o vestido de sempre, com florzinhas que ela comprou na liquidação da loja de departamento (e que todo mundo tem) por falta de dinheiro – e a perua chique que veste o que há de mais “in” da nova tendência, aquilo que ela se antenou sobre importando a última revista mais importante da moda ocidental. E existem os poucos que, seguindo o próprio gosto e com o dinheiro que têm, são criativos, compram uma sandália de departamento dali, uma blusa de lá e constrói seu próprio estilo de verdade.
As últimas pessoas são muitíssimo raras e vai ver é por isso que eu gosto tanto de andar com o Eros pra cima e pra baixo.

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