domingo, 25 de julho de 2010

Zumbis

   Hoje de manhã acordei de 2 pesadelos que, de início, achei serem muito diferentes entre si, depois de um tempo pensando se tratava da mesma coisa. O primeiro era algo sobre zumbis, em que pessoas aparentemente normais começaram a ficar totalmente diferentes, enraivecidas, assassinas, vítimas de alguma doença esquisita. Eu tentava fugir delas e conviver com outras pessoas em uma casa diferente e fechada, mas de repente alguma dessas outras pessoas com quem convivia também viravam zumbis e eu tinha que fugir delas e mudar de casa e assim por diante, infinitamente. Eu nunca podia confiar nas novas pessoas, que elas não virassem zumbis, não tinha como saber, eu vivia no medo.
   No segundo sonho uma eu (que era, na verdade, outra pessoa, de cabelos castanhos, olhos claros – com ideias muito diferentes (do tipo ser vegetariana convicta)) com um Eros (que também era outra pessoa, mas mesmo assim eu sabia que éramos nós). Fomos visitar Curitiba e eu estava muito contente de visitar Curitiba, estava quase chorando de alegria. Mas os prédios tinham mudado de cor, de formato, no centro tudo era feito de papelão. O Eros encontrou um amigo e de repente decidiu que queria que eu comprasse uma bola de futebol pra ele e pelo resto do sonho eu fiquei tentando comprar essa bola, encher essa bola, mas não conseguia fechá-la. E me causava angústia saber que o Eros – que nunca gostou de futebol – quisesse de repente uma bola.
   Bom, não precisa ser um gênio da lâmpada pra saber que ultimamente meu antigo medo da perda de identidade, da volubilidade das pessoas vem me assombrado de novo.
   É que por todos os lados que olho, nos filmes que assisto, os livros que leio, nas pessoas que eu conhecia, vejo a mudança, a ruptura, a inconstância sempre constante. Os apaixonados desapaixonando por uma nova paixão e depois uma outra paixão, todas infantis e baseada em fetiches idiotas. Nem os mais inteligentes imunes. O Russel dizendo que amava a Alys, depois abandonando ela sem a menor cerimônia por causa de uma atração ridícula pela esposa do melhor amigo (e que nunca se concretizou). Os conhecidos e parentes do Eros vivendo uma crise de meia-idade atrás da outra. Os personagens de tudo que estamos assistindo...
   Parece repetir sempre a mesma música: as pessoas não amam as outras, as pessoas suprem suas necessidades com as outras. Elas sugam o melhor e depois que passa a fome, enjoam e vão comer em outro lugar. E ninguém, absolutamente ninguém, está imune. Aqueles que dizem: “eu te amo mais que tudo” com tanta convicção são os mesmos que serão frios e indiferentes na primeira oportunidade.
Eu sei que tem pessoas que encaram isso com uma naturalidade estóica, ou até... hedonista. “Que seja eterno enquanto dure” e essa bosta toda. Mas eu não sou uma delas. Meu maior medo é não poder confiar em alguém, é não poder confiar num futuro. Meu maior trauma é ter perdido milhares de relacionamento significativos pra mim (incluindo amigos, não me venham dizer que amigos são pra sempre) que depois eu tive que me esforçar pra dizer: não me importo, na verdade eu nunca gostei, na verdade nunca foram tão bons assim, agora é melhor. Mas, se é assim, então o “agora é melhor” também é transitório e depois eu direi a mesma coisa das minhas relações presentes? Então eu devo me esforçar para não me importar? Ou devo me importar e dar de tudo para depois fingir que nunca aconteceu? Que ninguém nunca existiu? Seja qual for a resposta, não seria sempre viver em mentiras? Então o que importa o que eu vivo agora se são ilusões?
   E mais, sendo assim, eu não sei como lidaria com uma nova ruptura – que por mais que tentem desmentir, pra mim parece evidente. Toda noite eu não consigo pegar no sono rápido, eu fico pensando: o que eu vou fazer quando o Eros me deixar? Eu não gosto da resposta que sempre é: provavelmente eu me mataria. Fere meu orgulho. Porque eu sei que ele jamais faria isso, provavelmente encontraria outra pessoa em pouco tempo e eu seria a “que nunca existiu” ou viveria, sei lá, pra filosofia, se sentindo uma “pessoa livre” e autossuficiente. E, depois, e se eu tivesse me matado nas outras desilusões teria valido a pena? E eu sei que não, que aquilo não merecia... mas e isto? Mas e depois? E volto com o que disse antes: não sei como lidar com essa ideia de que tudo vai mudar, de que tudo é uma mentira, de que tudo é pra ser esquecido com uma volubilidade que pra mim pede a frieza de uma sociopatia.
   E tudo fica indo e vindo: eu encontraria outra pessoa? Como se isso ia gerar um ciclo de mentiras infinito? Eu viveria completamente só “me valendo” e fazendo de tudo uma masturbação infinita? Eu tenho perfil pra isso? Parece elevada tal atitude, de viver se valendo. Mas ao mesmo tempo pede uma frieza que eu não tenho, um amor pela vida em si que eu nunca tive.
   Então eu chego a uma conclusão (nunca decisória) de que, provavelmente, eu me mataria sim. Mas não por alguém – embora todos fossem achar que sim, e é o que me irrita. Mas porque não vale a pena viver de incertezas e de ilusões – não pra mim.

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