segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sonho sobre sair do chão


Hoje eu tive um sonho que eu pensei não significar nada, mas contando pro Eros eu percebi que provavelmente é uma metáfora muito bem elaborada para minha relação com minha carreira. Adoro como nos meus sonhos eu me revelo o Chico Buarque da alegoria sensacional. Descobri uma nova carreira: sonhadora.
Foi assim:
Um dia eu vi uma modalidade de esporte muito estranha, era uma espécie de snowboard no ar, daqueles que as pessoas fazem quando pulam de paraquedas, mas esse era sem paraquedas e era pulando de arranha-céus. Eu fiquei muito deslumbrada porque parecia incrível como os atletas conseguiam se manter equilibrados sobre a “prancha” sendo que não tinha nenhum apoio para os pés A prancha ficava totalmente solta, e não havia nada segurando eles, nenhum equipamento de segurança, apenas a prancha amortecendo a queda. Me contaram que aquele tipo de esporte era dos mais perigosos, e muitos atletas morriam, porque as pranchas escapavam dos pés, e eu pensando comigo: o que leva essas pessoas a fazerem isso? Bom, sempre tem gente que curte fazer qualquer coisa...
Então alguém do grupo que eu estava comentou que tinha um apartamento na cobertura daquele arranha-céu e que nos levaria lá para conhecer porque era muito interessante a vista, que era no 50º andar. Nós fomos. O problema é que o elevador era estranhíssimo, era enorme e de cimento, parecendo um quarto, e era velho e muito inseguro. Mesmo assim, nenhum de nós desistiu e lá pelo 18º andar o elevador subiu só de um lado e o outro ficou emperrado e ficamos totalmente na vertical, quase para cair, tínhamos que nos segurar em cortinas improvisadas para não cair pelos vãos (porque além de tudo o elevador tinha vãos)... Por isso decidimos voltar e subir de novo para ver se desemperrava (como fazemos com um zíper). Sim, nós não desistimos nem assim. Na minha cabeça eu estava pensando: eu quero ver como é a vista e não vou desistir, eu já cheguei até aqui e me arrisquei, isso não pode ter sido em vão. Na segunda tentativa, lá pelo 20º andar um menininho parou o elevador e ficou tentando nos convencer a não seguir em frente, porque o elevador era inseguro, e eu fiquei muito impaciente, porque ele estava nos atrasando, e nós já sabíamos do risco. Continuamos mesmo assim e fomos até o 50º andar, o que levou quase uma eternidade.
Lá em cima o apartamento não era nada do que esperávamos (ou pelo menos do que eu esperava). Ele era muito pequeno e chacoalhava ao menor vento. E para piorar, a vista não me interessou porque, apesar de ser bonita, se eu abrisse a janela e fosse para a sacada eu tinha vertigens fortíssimas e tinha medo de cair, então tinha que fechar e olhar só pelo vidro, o que tirava boa parte do propósito de termos subido lá em primeiro lugar. A vista até que era bonita e tinha o mar – e eu achei interessantíssimo ver que de tão alto as ondas pareciam rolar em câmera lenta, o que me pareceu um instante muito poético, mas fora isso, a impressão de que o prédio ia desabar a qualquer segundo foi me deixando muito apreensiva, e só de pensar todo o trajeto de volta, naquele elevador horroroso, eu só queria terminar logo com aquilo.
Mas ninguém queria vir comigo, uns começaram a abrir a geladeira, a querer fazer comida, e eu implorando para descerem logo comigo e pararem com aquilo. Eu não queria descer sozinha. Apesar dos meus pedidos, ninguém quis descer, estavam todos muito ocupados e se divertindo sabe-se lá como, porque com tanta gente naquele apartamento pequeno a atmosfera estava ficando sufocante e não havia prazer nenhum em ficar lá.
Então eu desci sozinha. E a descida foi também perigosa, mas eu estava muito aliviada por ter saído de lá, e enquanto eu descia agarrada nas cortinas eu me sentia feliz por pelo menos estar voltando para a terra, assim como acontece quando estou no avião e ele volta para a terra.
Pensando bem, esse sonho também representa muito minha sensação quando pego um avião, e meu espanto pelo fato de existirem comissários de bordo e pilotos no mundo, mas além disso cai como uma luva com minha experiência de emprego. Eu não me sinto segura no ar e é um alívio poder voltar para a terra.

Um comentário:

Unknown disse...

E tem também a discrepância entre o real e o ideal. O ideal traz uma sensação muito boa (admirar as pessoas que saltam em pranchas e querer ser como elas) enquanto que o real, aquele lugar até onde pudemos chegar, próximo, mas não o bastante ( o apartamento, a janela, os perrengues que só o real revela) causa desconforto. Será que não era preciso SALTAR? (Marla)